quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ode às Mulheres




silêncio faz doer as pontas dos dedos
quando a cor dos olhos das mães
são as mesmas cores da terra em que nascemos


por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

quando o mais fácil arde dentro do corpo
a volúpia dos poetas e o coração dos mesmos
somos nós que procuramos
as sensações de conforto de outros tempos celestiais

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

as mulheres tiram os seus panos crus
na hora incerta de uma canção
quando os seus passos de fogo nus
são o núcleo do grunhido vivo
na hora incerta de uma canção

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

as mulheres amam as esculturas dos anjos
o palato dos mesmos
bocejando nos seus umbigos e nas suas coxas

as mulheres amam os seus umbigos
as mulheres amam-se nas sombras dos pecadores
amam as praças carregadas de pássaros quentes
amam o vento nas penas dos pássaros quentes

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

as mulheres amam a vertigem do vento 
as mulheres amam a versatilidade do vento
e a boca dos cavalos

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

o leite pálido das luas das unhas
é a mão de todas as mãos que eu tenho
e a cabeça escreve em surdina
sol casa rosa mãe

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós


















segunda-feira, 1 de abril de 2013

a simples existência do homem ou o poema da criança do Nada

a vida é apenas o cenário onde preparo a saída do poema, é o verde humilde que está prestes a morrer. enclausurada, uma barra de ferro brilha repetições nos ombros e nas costas -afilhada cinzenta das tragédias gregas! a vida é uma sucessão de jogos: entre o relógio de areia e a casa de porcelana quente, entre o cavalo de barro vermelho e adão, cego, bebendo enxofre da mulher triangular.

a neblina do próprio Eu adensa-se e no nome do silêncio maduro as estrelas perdem-se nas cavernas forradas de ouro -lâminas cortando simétricas as revoluções crepusculares.

que outro simulacro abre fendas no coração do homem que se ajoelhou de cabeça baixa sem honra nem orgulho -mármore negro. que tarde finda traz a mulher com a criança nos braços e na sua rédea a foice cansada do campo de trigo. para quando a palavra perfeita que na virtude se acende de morte ou de ideia.
na ampla paisagem da vida onde o mar de Todavia revela-se na gaveta, o tempo do sonho alimenta-se da constelação dos planetas profundos e a mulher liberta a criança do Nada e dá-lhe o leite do seu peito, enquando o homem ergue a cabeça da razão e o que fica do passado é o simples desgaste de um abraço interminável de dor e de palavras.