terça-feira, 29 de setembro de 2009

Quatro elementos

assim,regresso às formas
do homem cão
e ressurjo na embriaguez da terra mãe
na lentidao do magma
fulgor é agora
esta memória de cinza carne
e o que fui
neste idioma
-lingua sintomática
atento tambem
ao círculo espelho
e faço as minhas mãos na àgua sol
no rio pedra
por fim
respiro uma boca ar
alcanço a luz brilho
no intermédio da vida morte.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

amo-te.e em silencio despimos o corpo carne.a minha boca repousa no teu corpo luz.respiro cada silaba da tua pele sombra.unidade.apenas uma respiração.apenas uma transpiração.tão breve é o momento em que roubamos ao corpo só.tão pouco é o alimento que retiramos das mãos e dos cabelos.ainda em silencio.ainda sós.devolvemos à lua o romantismo de outros tempos.o brilho das estrelas e o sol em nossos corpos de oiro. fecundamos os sonhos e por uma vez morremos.

memórias de um amnésico XI

fui uma escada construida ao longo do tempo que por aqui passei.nesta casa.neste sofá.encontrei-me na gaveta.uma gaveta fechada mas não trancada.dá acesso à cave.um anfiteatro.desci.encontro-me aqui neste espaço.sem medo.sem nada.ausente.um silencio roça os sapatos desta escada.esta cave.de vidro.não de espelho.degraus partidos.a fragilidade de ter medo.este é o espaço do suicida.do enforcado.lembro-me da corda.a corda do enforcado.também ela fazia parte deste cenário.o meu percurso para aqui chegar foi um pensamento. uma língua roxa.e o sangue.o sangue agora seco faz-me lembrar o sucedido.ainda este rosto.este pescoço esticado.o suicida ainda vive neste corpo.nesta cave de escadas de vidro frágil.dança a corda no tecto.todo o homem foi construido através deste suicida.deste corpo pesado.deste corpo morto.este transeunte pesado.depois da agonia a libertação.a minha verdadeira natureza.a natureza das coisas palpáveis e o que fora imaginado.liberto-as da corda.as mãos e o corpo.um ultimo cansaço.este momento fatigado depois de tanta ausência.o ar pesado.este regresso.compreendi enquanto viajava por este corpo que o tempo é superfluo neste espaço.nesta casa.não passa.melhor é não usa-lo.que capricho este de não usar cinto.neste corpo.neste refugio.apenas o robe.raramente olho para este espaço e duvido que seja apenas meu.outros habitam.há também um desenvolvimento colectivo.e usamos esta intelectualidade como elástico para com o pensamento.este cordão umbilical.pudera eu rasga-lo.desprender-me dele.este cordão umbilical cerebral.este quarto.o útero.a concha.é um caixão intelectual.não morro ainda.o suicídio do arquitecto.e esta casa sofre alterações.esta casa de emoções vivas.esta casa de canções mortas.esta ressaca de não dizer nada.esta ausência.um outro desafio é ser racionário para a possibilidade de desfrutar deste espaço sem pagar renda.ausência.é uma pedra profundamente abalada para alem de ser sofrimento.há luz.porque vivo passagens.porque faço constantemente viagens.e retomo o mesmo caminho até ao pórtico de origem.há dor no regresso.no real.o ser humilhado.o ser sodomizado. o ser enforcado.há também o prazer de viver um morto.é uma instituição de leveza do pensamento.é uma carga pesada de responsabilidade.e sobrevivência.esta pedra.o habito do homem comum é esta pedra.para sempre.

o personagem do imaginário,este frágil débil mental.

o personagem do imaginário
aprecia a experimentação
e partilha as suas visões da vastidão do cosmos,
tem como imagem um quadro simétrico inútil,
problemático pela sua exactidão
entre a concepção e execução,
motivado pelo desgaste do uso do timbre mais hábil.

o personagem do imaginário
procura o sucesso inefável pela lança do esquizofrénico.
é o jubilo da maturidade
com as suas recebidas lisonjarias,
murmúrios e a bestialidade de sensações suaves,
afectos demasiados profanos.

o personagem do imaginário
tem voz!
e a sua arrogância é uma avalanche de ditados,
provocando velocidade e acrobacia.
é um general complexo e indecoroso.

é um frágil débil mental.
tortura a evolução harmoniosa
de virtualidades, que nos cativa ao ouvido.
será melhor permanecer superficial!
até que o odio inconsciente infeste os submissos.
nestas condições,

o personagem do imaginário,
nem com paisagens lentas nem com escolhas significativas
tem particular dificuldade em impor-se.

o personagem do imaginário
acredita que
a concepção evolui e é no seu seio
que se dá a origem do cosmos.

o personagem do imaginário
divaga no infinito do universo palpável,
sem improvisos,
renova-se em consonantes acordes
pelo o já encandeamento da percepção
vangloriada do mundo.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

..todo o corpo é moldável e como tal, tambem se despe e recorre a um pensamento volátil ,nao percebo, como nao desejo a ninguem, a amargura dos dias.outras vezes foram mel ,agora resistem flores de plástico em vento gelo repirável.

meu corpo voa leve

que o meu corpo seja leve
pois à maldiçao da lua
liberto o peso do meu grito
-a amargura do meu peito sepulcral
-a alma cansada da proviniente tristeza
e que sirva de arremesso
ao covil dos homens-fantasma
os dentes, ossos e carne.
pois, nos braços do sol
as sobras do que subsiste dormem.
que venha agora a outra
(nas asas do pássaro negro vive)
e me carregue
na voluptuosidade da sua boca.

que casa agora

respiramos e da palavra nasce o regresso dos lunáticos

avivam a alma e abrem o corpo ao corpo desnudado

uma pequena morte os acompanha



permanecem nas gavetas outros escritos da memória distante
de um outro corpo de um outro caminhante



é bom falar para o coração da noite



no encontro do silêncio sangue na passagem do suícida
e no nascimento da ossificação da flor breve



nas ruas a imensidão das horas
no corpo a casa
que casa agora que casa agora



um ultimo beijo deixo às matérias sensíveis



aos homens magma
pois o húmus é longo e àgil na pedra da fraternidade



que casa agora



rebentam últimos suspiros ao mar revolto
e é das raízes
o som que eu reclamo as que nascem no fundo do ventre
como as amo

escalam neves e pedra-lágrima



e adormecem nas areias àridas



sao a erosão da terra e feitas da lucidez de quem ama

sao os seus antepassados celestiais



vem comigo agora vem comigo agora
derramamos o vinho encostamo-nos ao tempo

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

...nosso momento de contemplatividade,
prefiro-o na ponte flutuante,
onde visivelmente a ria formosa
alimenta os outros seres...
e o por de sol é a magnitude da natureza Mae.
nada sinto
se o sinto nao o sei
provo o que das palavras
sábias me deito como
provo...
o amor pelas mesmas
de sabedoria dita
esténico a esta escrita
enigmático!
a porta da palavra morta,
fria
o calor deste corpo quente,
a boca dos dedos
cosmopolita.

teu casaco castanho

gosto do teu casaco castanho
mesmo que sujo da lama de ontem
e das tuas orelhas mágicas de jumbo
(até quando as moscas com elas vivem)
gosto dos teus pés e das tuas maos
porcaria do tempo em tuas unhas desfeitas
e do monturo do teu corpo
na lixeira da tua casa sem casa

pudessem!

todas as palavras sentidas com amor
cingissem com os seus braços
o teu casaco castanho
as tuas orelhas mágicas
os teus pés e tuas maos de fome
e aconchegar o teu corpo
com o calor dos substantivos
de nao terem mais lágrimas...

pudesse!

que este poema mesmo que nada
dê-se para ser leite materno
para saciar tua sede (ao menos).

este ser de ser assim

este ser de estar dentro
neste ser de ser assim
neste coraçao que voa alto
nas asas do pássaro azul

este desconcertante desconcerto
esta margem de rio douro
este palácio de cristal
este leao em aguia real



grande cidade de pedra

aldabro a porta de entrada
feito sou e nasci
navio de guerra por ti
corpo, lança e adaga



todas
as algemas de alcool
e nas veias o sangue ferveroso
bramidos de aves poéticas
janelas embriagadas de fogo



desprezivel sintonia imponente
coraçao que palpita magestoso



boca de carne veste trindade
prostituta isenta de impostos
homens em (T) respiram liberdade



qual a aorta da lua
qual a saída deste corpo
anel -trafego nocturno
via de cintura interna
circunvalaçao,
sentido opturno.
...pediste para eu fechar os olhos e levaste as minhas maos ao teu tronco nú.a forma como sentia a tua pele pelo meus dedos era a sensibilidade que vinha de dentro.a forma como percorria partes do teu corpo era a sensibilidade que vinha de fora.mas para descobrir o que sentias, precisava de tempo...

na orelha esquerda de Van Gogh

Vejo-me


na orelha esquerda de Van Gogh

Pontilhada

no coração de girassol de Sian Hoornick

E é com velas

presas no chapéu que me vejo,

Pintando a noite fria

da cidade adormecida

E nos Campos de Trigo sob um Céu Enevoado,

Tristeza e extrema solidão…

Quase acredito que,

exprimo o que eu sinto.

Revejo-me vendido

na exposição de O Vinhedo Vermelho

No Grupo dos Vinte

E por mais quadros que se pinte,

a tinta terá sempre o mesmo sabor

Dr. Gachet!

Não me coloque mais ligaduras no peito.

de hoje

hoje


a chuva recusa-se a parar

como se recusa a um abrigo este

corpo embriagado



carrego a chuva pelo rosto.

e a memória

e o tempo das botas de borracha

e o jogo salta-poças.



casa



um banho quente

a mão que limpa o espelho

e uma ruga que aqui mora

faz tempo



a tua perspectiva

e a descoberta de luz

entender-te



és uma capacidade de adaptação

os bichos em extinção,

-prevalece nossa existência.

Tom Waits - Watch Her Disappear





Last night I dreamed that I was dreaming of you
And from a window across the lawn I watched you undress
Wearing your sunset of purple tightly woven around your hair
That rose in strangled ebony curls
Moving in a yellow bedroom light
The air is wet with sound
The faraway yelping of a wounded dog
And the ground is drinking a slow faucet leak
Your house is so soft and fading as it soaks the black summer heat
A light goes on and the door opens
And a yellow cat runs out on the stream of hall light and into the yard
A wooden cherry scent is faintly breathing the air
I hear your champagne laugh
You wear two lavender orchids
One in your hair and one on your hip
A string of yellow carnival lights comes on with the dusk
Circling the lake with a slowly dipping halo
And I hear a banjo tango
And you dance into the shadow of a black poplar tree
And I watched you as you disappeared
I watched you as you disappeared...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

e nada se esvai

Chamam-me

Alugo o líquido sugado das entranhas
E de pálpebras cerradas,
os meus ouvidos são abafados
Pelo silêncio,
onde tudo acontece e nada se esvai.

Sinto
o corpo em metódica transformação,
Corro no círculo fechado.
Várias partículas de fogo
imergem bloqueando as veias,

(Aglutino em compressão
os mesmos espasmos),

O grito silenciado
pela ânsia dos ideais,

Tudo em mim
e nada se esvai.

Tudo se move,

(contudo não saio do círculo)

Explosão
de lava incandescente da carne
E o sangue
ferve arbitrário
ácido corroendo as plaquetas.

Parasita
do corpo cansado,
aniquila-me
com multi-orgasmos vencidos
Onde tudo acontece
e nada se esvai!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

filiformes

lamenta-se a tinta cor pedra
neste ìmpeto sujeito de dor,
que poder das asas com fome
da boca que arde Sol

é no tornar lento
que me libertas(filiformes sons
acutilam a memória)
e o que restam
da magnitude das palavras
sao
o teu sossego nos meus lábios.

orvalho fresco e outono

há um silencio
o mesmo que desenha o teu rosto
que desliza pelo corpo teu
e de dor se fez pensamento
do homem comum.

-orvalho fresco e outono

desatar o nó que envolve a garganta de fogo
libertar do vento desprotegido,
cripta,
desassossego
atonal que impede
de um agora Ser
esquecimento

e o que molda teus lábios de luz
e nesta pobre noite sobrevive
um coraçao em tuas maos àridas
ferida de um medo
que se entrega à desgraça.

a flauta de Debussy

todo o movimento se repete
os braços orgânicos imperceptíveis
ao corpo
e o devaneio de uma película
fina de tinta cinzenta neste espaço
ruivo, a aurora da floresta cega
o bosque natural
folhas deitadas
de tranquilidade e renascimento
um rio,cascata triste
o ideal perdido e o reencontro
do Eu interior.
todo êxtase e novamente perdido.


quem sodomizou assim
o meu corpo
com noivas carregas de noite
e com o sono,mordaça e desgraça
feito de voz que fulmina dor
e lábios feridos de gelo
mãos moribundas desastradas
e com pés de precipício e angustia
coração
de náusea e ausência
este estômago de sofrimento lento
sem apetite

resta-me a coragem
desta alma
quando se liberta deste corpo,
viajando pela flauta-fauno
de Debussy.

sábado, 19 de setembro de 2009

da palavra e do abismo

pergunto
se as centopeias
as que lavam o fogo
dos seus corpos martirizados
renascem das costelas das suas formas
na explosao dos ossos
da loucura das suas bocas-magma
ou se se deitam
nas cançoes do homem-pássaro
e voam fortes nas suas asas quentes
procurando novos ninhos.
pergunto
se a semente do seu corpo obsoleto
nao é mais do que
sombra na ausencia do nada caótico.
porque é de dor o tempo que nao passa
e de cinza o que constroi a magnitude da lua.
e de som cavo o que a voz do homem atira
para o abismo ,a palavra.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

enaltecer o pensamento e absorver o dilúculo

depois de amanhã uma nova razao,
uma outra que expele
da ferida viva que esta deixou.
é do pensamento do homem
esta vontade de percorrer
por entre a serenidade das sombras
e beber o que a alma soluça
para depois abandonar
o que o silencio consome.
uma outra porta se abra
e depois desta uma outra lá ao longe
no horizonte surge.
cabe ao homem!
lucidez nas suas decisoes.
demasiado cansado pelo caminho percorrido,
chega novamente a um outro pórtico fechado.
haverá força e coragem suficiente
para este devorador de luz?
ou melhor será deixar que outros a consumem
para depois deixar-se beijar...
a boca,a face,os dedos e os pés
com a dita sensata sabedoria?
temo mais,pelos que nunca a sentiram
e condenados estao assim a astúcia
e ignorancia com o pensamento de àgua suja.

da luz do abismo

sinto uma fadiga esquelética
todas a vezes que fecho os olhos
para te contemplar,
recuso abri-los!
aguentarei nas pernas este corpo
estático
mesmo que fique pálido, doente, de tão magro
porque prefiro beber-te
e tu sugares-me o ser.
sinto
a serenidade, de cada vez
que o meu coração palpita
e a melancolia desaparece
porque partilhamos o mesmo sentimento de luz

tu és luz!

o sol que me acompanha
no tempo do tempo
e o meu corpo condenado ao castigo de viver
por te amar tanto.
houve um momento
em que me senti abandonado
quando outros visitaste primeiro
contudo
irradiada de felicidade vieste
para me levares no teu breve sono
já os meus olhos te abençoavam
e os meus braços desfaleciam...
e voavam
e voavam para ti!

feliz acaso

faço-me de fingido
neste retrato de familia
e quando o pensamento
tirou-me uma fotografia
revelaste um sorriso.

Femme Fatale

...porque te dás
a este corpo sodominizado
será para mostrares
o vestido novo
ou as pernas
das maos
nas mesmas hematomas
do olhar
um brilho cansado

preferes a embriaguez
dos homens?

a necessidade da carne
de quem tem fome?

porque de trabalho
somos qualquer um.

vjarski (com carinho)

..o que nao esqueço
regurgito
da terra a lua gélida
o que apodrece
nos pés a agua limpa
lavras o rosto
e no seu recorte
míngua
o agitado corpo.

no ocular cego

pari da janela
pedaços de vidro ao
suor do rosto
deleito-me nas
rodas de ferro
o Corvo
debica
ao corpo
o tempo
lento no
parir da janela
fragmentos
de vidro,
subiram ao céu
rodopiando no sentido
contrario, nus
aos ponteiros do relógio
pari da janela
estrelaçadas
asas de pássaros quebradas
podridão e fedor...
pari da janela
máquinas fotográficas,
filmes e negação
da aurora
ou ondas de um sonho
ao parir da janela
a
angústia...lá
como o resquicio vermelho
pari
um sorriso ou
escarro podre
de pernas abertas
no ocular cego...cego!
o aborto
escorregou ao parir!

cão epidérmico

tuas veias estão podres
ó malabarista repugnante
és um murchar lacrimoso
no caminho do idiótico
tu que cantas contemplatividade
da tinta que escorre pelos dedos
de palavras carregadas de esgoto
tem vergonha!
ó fantasma encharcado de imundice
tuberculoso da inocente volúpia
bicho adormecido mal-cheiroso
verme amargo desdentado és
quando te comes!
tropeças e iludes a dignidade dos homens
e perdes-te no engano dos artificies
ó dejecto da inspiração intelectual
tens o sorriso degenerado
e teus olhos brilho de ladrão.
a tua desonra há-de chegar
ó cao epidérmico asqueroso
e cairás nas sombras
sentindo o frio da terra de Janeiro
desaparece!
ó morcego...sanguessuga desmiolada!
louvar-te é um zumbido de moscas
quando te banqueiam no bater de asas
ó demente parasita cobarde.

por detrás do cenário

hei-de nascer por detrás do cenário
um velho
pela liberdade percursionista
das baquetas cansadas
alimentando-se de melancolia
pela virtude e castigo
veneno
ao suspiro da tolerância
de corpo aberto
ser comediante inocente
pela velha fadiga velha
próximo da lua
ao choro amargo, divaga
tendo como justiça
o eterno, velho carrasco
e selvagem animal que é
embriagado verga o
velho libertino
das novas nascentes de praga
vomita velhas palavras
dos velhos fantasma da magoa
e morre pelo consumo,
ladrão do elogio encontrado.

a valsa na tua ausencia

...a distancia e o meu medo;

a tua ausencia

somos cumplices,

e o cigarro partilhado;

tua saliva

das horas,
ensaiamos a fuga;

a garganta sufoca...

beija-me

em sossego

os dedos
e o silencio.

a máscara de um olá ausente

..dizes
que o silencio te visitou
e ao lamento pronunciado
te procuras nessa semente.

o que verás
nao serei mais
do que
alado coraçao que te sente

a máscara de um olá ausente

gota de orvalho vivo
de breve instante despido
trago amargo do dia
da melancólica despedida

tao terna é a tua mao
e nos teus dedos
minha face chora
a noite é dia infinito
o dia é noite agora.

permanecer

é na ausencia do amor
que construimos a casa de espelho
dentro
as divisoes de sangue nú
e todas as matérias
que recordamos da primavera febril
dentro
o pó dobrado pelos anos
e o que dele se entrega
aos abutres inaudíveis

-novos amantes se deitam
na cama de trigo

respiramos as cançoes roucas
no corredor despido.

soluçamos
sobre a pele mutilada
a solidao que se esvai
no orvalho do tempo

respiramos uma ultima vez
a vulva deste corpo
e na sua boca de luz
permanecemos.

como chegar esta pedra

repousa no seu encalço
uma cera de sombra viva.
lamina poética
contando os passos.
se de guerra sao
estas palavras metalicas
outras ainda
no inteligivel ficaram.
de tao pouco
serve a mao que abraça
a semente
a que depois de esculpir
o medo
circunscrita na memória
sensivel.
é de fogo-gelo
o amor
o qual ferimos os nossos verbos
-nossos movimentos
e dos dentes do magma
renasce esta pedra.
outrora
uma lingua de cinza
bebia o vazio
cantado na fonte
e alimentava-se do silencio
o que mordia o ferro.
e do nada
um corpo,um vulto
respirava agitado.
outrora
flutuava a voluptuosidade
dos sonhos
a lingua (por quem)
saboreava
as flores humidas do desejo carnal.
outrora.

(de que falamos agora senao da morte)

nossos dedos

somos

(da transpiraçao de todos os poros)

os que ficam para
alem das imagens.
o riso das pedras
que os amantes beijam
na àgua.

chegam-me à boca
a transparencia das
estrelas vivas,
como nos teus ouvidos
as palavras de amor
abafadas
-nossos gemidos.

da memória
a fidelidade das asas.
somos
pássaros livres.
alma e corpo.

no turbilhao de prazeres
prendemos e desprendemos
nossos dedos
para depois
(tal como eles)
...desfalecemos.

o ódio que por ti sinto

preferia que me injectasses teu veneno
proveniente das tuas unhas de plástico falso,
a tua alma, no meu coraçao de ferida viva.
talvez assim evitasses o ódio que por ti sinto.
ou entao em segredo vomitasses palavras
de guerra quente pelos canos
das espingardas incessantes do fogo sujo.
a tua lingua.porque nao fizeste mais do que
matar o que de mim nasceu.nem me avisaste.
ele nao tem a culpa dos pais.ele,que
de consiencia e transparencia surgia e
ganhava forma.
ele que era ,pelo menos para mim,belo.
quem te deu a autoridade
para cometeres esta atrocidade.
farias o mesmo com
os teus pensamentos de alma vazia.
dás-me azia.e eu choro..nao pelo teu perdao.
nem to quero!
mas porque ainda o sinto na ponta dos dedos...
nao lhe pode beijar nem cheirar a sua pele.
nao me deixas-te.
és a crueldade e como tal desejo-te
que ardas entre o céu e o inferno.
nas intermitências da vida.
que tenhas todas as dores...
porque o encontras por aí.
beija-o por mim.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ainda, neste dia de estar só V

...houve momentos em que nao conseguia disfarçar a falsa realidade nem imaginava terminar assim os dias.pudesse eu te-lo desejado.mantenho ainda o prazer, mesmo que o desejo espere hiperatrofiado, de falar de amor.eu que vivo agora,sem escrupulos,neste buraco com a promessa de anular os dias,de por fim à tristeza vil,ofensivamente ruminante.diz-me, porque me fizeste indestrutível,
enquanto fazíamos amor,nunca te passou pela cabeça te vingares ou o que tu fizeste era com essa intençao?.todo o homem comete disparates.eu,apenas digo que foi um desabafo teu.

ainda, neste dia de estar só IV

...pergunto ,se alguma vez me foi autorizado este teu amor por mim.se consientemente me inquietei devido à precipitaçao,se foi mesmo impossivel,pedir-te tanto do pouco que te dei.todos os dias sao melancolia.que farei com este corpo cego.é tao doloroso este perder inegável.eu percebi que a minha genialidade era a certeza distanciada por sorrisos gastos e arrastados.minha embriaguez perante as coisas mais belas enchiam-me de silencios e transportavam-me para um outro lugar.junto de ti.dentro de ti.se alguma vez atingi a perfeiçao foste tu que a revelaste.estou convencido que perante este conhecimento me moldei para ser melhor homem e encontrei,por certo,a confiança de continuar assim.foste tu atravez da benevolencia que nao me deixaste secar o corpo.todo o meu corpo.mesmo quando me esgueirava para disfarçar as lágrimas.qual luz dolorosa dos dias.porque foi-te fácil perdoar-me e tu nunca te perdoas-te.

ainda, neste dia de estar só III

...estavamos cansados devido à mochila e o caminho sinuoso.descançamos sobre as folhas caídas da época.fizeste-me observar as pedras e o musgo nas mesmas.disseste que tu eras como as pedras, serias mais bela com o passar dos anos porque tal como elas saberias envelhecer e eu seria o musgo que te protegia das intempéries da vida.

ainda, neste dia de estar só II

...és tu quem tenho na mao e faço caricias em papel.

beijo-te os seios interruptamente, a noite ainda agora acabou de fazer amor entre os nossos corpos.é assim que gostamos de ficar.nao me recordo do dia.levantas-te e dizes que tens um presente para mim.percebi pela tua silhueta despida a beleza dos corpos femininos.a beleza do teu corpo.escondes entre os seios qualquer coisa que parece de papel.és linda quando crias suspense e danças assim.é lindo o teu sorriso.é uma fotografia o presente.é uma fotografia o teu presente.dizes que no momento em que foi tirada captaram o que de mais leve tens. o amor por mim.toco sentindo aquele rosto de papel.dás uma gargalhada. porque tocas no rosto de papel se estou aqui ao teu lado?.e quando nao estiveres?-respondi.

ainda, neste dia de estar só I

antes faltou-me a coragem para avançar em tua direcção,
seria eu um louco introvertido porque tanto te amei e nunca to disse.
estivesse eu preocupado e o teu sorriso iluminava o que tanto ficou por dizer.tenho a sede dos amantes.tenho-te à minha sede de viver.e quantas bocas terei que beijar novamente para voltar a encontrar os teus lábios.fazes-me falta.espero que te encontres bem e que a terra aguarde espaço para mais um.
e quanto de mim é uma ilha.
visto os dias antigos com a honra de romper a carne,não consigo.sou agora o sossego analgésico.um embuste do homem que fui.encontro-me aos poucos na miséria das horas sujas e digo

"eis o vosso homem romântico! aqui está o verso que criei da monstruosidade deste pensamento e o que dele se alimentou".

aguardo a coragem de furar as veias da garganta e em silencio deitar-me ao teu lado.

O que inventei de ti

percorro
todas a linhas e
todas as tranças,
o que inventei de ti

sao os teus trémulos
que broto das maos
e a pele de aranha
nas minhas outras
seis sedas

pergunto entao

em que beijo
do teu beijo
suspiras...
a sensivel
voluptuosidade
da carne
e o afogar dos silencios
entre coxas?

Estenia e Amor

...fizeram-te assim e feriram o pensamento de luz,um outro que brilhava antes deste.antes,muito antes dos anos inventados.a estenia e o amor.qual a razao e a força.qual a força na razao.o que avança e o que se detem.e o que somos.fizeram-te de sal.e boca de silencio.direi que foram melancolia. as palbebras e retina.chegará o momento.a ponte de gelo e o precipicio de jardim.é bom acordar dizes tu.nao nos preocuparemos com os braços.
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................................................................................

Este Sonho

...regresso a este sonho
onde o teu corpo
nos meus lábios
absorve todos os taninos
o vinho
multiplico os sabores intensos
os teus poros
e a minha língua quente
nos teus mamilos

suspira o coraçao
do amor perfeito
enquanto
deslizo suavemente
os dedos
pelas tuas partes íntimas
só depois adormeço
na sensualidade
de uma poesia perfeita
(da pele sensivel)
entre os teus seios.
..............................

Pedra de Sentimentos

esta pedra de sentimentos
esta lua de morte lenta

haverá desenlace
para esta rua de vidro fosco

este sentir agitado
este vagabundo no mundo

haverá beleza delicada
neste desejo de ser amado

este pensamento funesto
este túmulo fechado

haverá compreensao possivel
neste conforto exijido

esta verdade inviolavel
este coraçao partido

haverá manifesto verificado
neste ardor sentido

este cerebro cansado
este ser sem nunca ter sido.

..................................................

apoteose da morte

como construi esta lucidez de
-lava
massajando a carne
-nupcial
o rosto que nao morre
quando bebe das entranhas
o reflexo da vida
-liquida
sei-o
porque o vi enternecido
nasceu do ventre
-visceral
este coagulo espesso.
bebemos agora o sangue
e nos lábios
apenas uma voz que já fora
-desfalece
somos apenas sombra
a que come o
-silencio
e que no vazio respira
-suicidio
pudera no coraçao dos
-ossos
encontrar respostas
e tambem em ti me encontrava
as
-flores
de cinza feitas
o polen que das lagrimas
-ardem.

regressaste na palavra
-mae
no simbolo do leite sólido
tua pele de
-mármore
e eu mordo todas as petalas
-celestiais
na ansiedade
de provar o teu coraçao esquivo
qual
-memória
de pedra nas mesmas ruas de cinza
se cruzam
sombras e
-abismo
do murmurio lento
salgam os ouvidos
veem de longe
dissimuladas bigornas feudais
-ferram-te
submersos passaros de
-vidro
raros foram os dias
em que dançavam-nos
-fogo
em todos os poros
somos agora a erosao da
-terra
o nucleo erecto da
-boca
o alcool que triste adormece nas veias
e o azul do anus
-apoteose que da morte
se faz letra viva.
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