segunda-feira, 29 de março de 2010

Também sou como as cidades

Para quem não acredita,
Hoje sento-me no pouf
Castanho, confortável e fumo um joint
Na varanda do segundo andar
Num prédio que apenas tem três andares

Observo a cidade que lentamente
Estende os pés e
Depois os braços
Na cama das ruas, no asfalto,
na calçada antiga
cidade que tem luzes como cobertor

Ouço
Uma musica de fundo . yann tiersen
-moulin
Vinda do computador pelas colunas emprestadas por
Um amigo
-um bom amigo
(só as colunas são emprestadas)


Penso neste momento em nada pensar
E logo esta notícia percorre todo o pensamento.

Para quem não compreende
Todo este processo facultativo,
Pensar para mim,
é um acaso lançado à infertilidade do raciocínio
claro que,
separar as aparências mentais possivelmente transfiguradas
em grandes e lentas passas no joint
é um gesto minuciosamente pensado
o que me leva a vários fantasmas
e eu
tenho-os, o bastante para constituir uma sociedade
catedrática de atitudes morais,
de aspirações abonatórias
com nivelamento aceitável.

Devido a este pensamento não pensado
O joint apaga-se mais uma vez
O que me leva a constatar que
o movimento gestual praticado pelo isqueiro
é útil para afastar outros pensamentos
menos estruturais ao domínio absolutamente inútil.

Quem me diz
Que a chama do isqueiro
Não causa desprezo aos lábios devidamente ásperos
Pela ligeira corrente de ar que se faz sentir

Lembro que são três horas da manhã,
Sendo ainda assim
que o relógio encontra-se atrasado uns quantos minutos

e por falar nisso…
deixarei para mais tarde o resto do que falta fumar,
também eu sou como as cidades.

sábado, 27 de março de 2010

hoje ,na ponte flutuante da formosa,contaram-me a historia:uma mulher abriu os braços e deixou-se levar pelo vento,pela maresia,pelo mar.nunca mais voltou.
-já começa a ser hábito este morrer,esta vontade de procurar nos que foram, a fuga.nem luzes agora nem cheiros intensos a sexo nos levam para fora dos sonhos.os nossos sonhos.algo roubou aos nossos sonhos esta vontade de gritar:vida!
devemos, minha querida amiga, ouvir a terra com mais atenção, os gestos da terra-mãe.talvez,encontraremos forma de unir nossos pensamentos ,nossos corpos abertos,desnudados,sem pudor e sem fome pela carne.ter-me-ei dado ao teu silencio,como alternativa de não morrer sozinho.porque tenho medo de te perder,tal como a mulher que mergulhou nas aguas do mar e nunca mais voltou.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O sol é um cavalo dançante na visão do rato

O dito homem salta para a sela do cavalo
Um cavalo de madeira, um cavalete
Três vezes repete o movimento
Duas vezes cai ,
Segura na palma da mão as formigas celestiais
Estas brilham, são areias, areias num foco de luz
O sol é um cavalo dançante na visão do rato
O homem tem o rosto de rato
O gesto obriga ao esforço mental
Desenvolver um rosto
o homem retira o rosto do rato
Duas faces nas mãos do homem
O rosto do rato e um desenho,um palhaço,

Um homem Enorme,
E uma terceira face
A que agarrou a sela do cavalo na face do homem.
Em qualquer um dos casos
O pesadelo, nuclearmente, surge
( uma criança acende uma flor de papel)
O homem novamente
A viver o pesadelo, com uma garrafa na mão,
Bêbado, tropeça e bebe vinho, deixa-o verter pela camisa,,
Mostra-me os dentes,
dentes e gengivas provocando matéria para as mentes
Menos capazes.
Modifica-se o cenário,
O homem balança sobre os seus pés nus,
De costas voltadas, agora,
De frente para o espectador
Reconheço-lhe a face,
É o mesmo monstro que no inicio apareceu
Uma musica (uma valsa) acompanha todo este cenário,
Tal como boémia,
Este homem com uma sela de cavalo debaixo do braço
vai desaparecendo lentamente
ri, ri alto ,cada vez mais alto, mais louco
um vidro parte no chão,
uma outra personagem ( o velho)a varrer os vidros partidos
para uma casa de papel
uma outra musica caótica surge,
elevando-se o som
pousa o homem a sela do cavalo no centro do palco
uma boneca de trapos como marioneta
salta para a sela do cavalo
uma musica agora infantil acompanha a cena

é tudo bluff.

as formigas e os ratos da cidade crepuscular

É claro, o que não fiz foi
ouvir o álbum Mule (Tom Waits)
Como que isso me levasse ao inferno de Dante
Tendo desistido honestamente
Da fase de ser louco.
Já a coisa se transfigurava no pensamento
Tornando-me mordaz
Irónico humorístico
E artístico
-Havemos la chegar com as cavalarias
Aos cem de cada vez.
Nunca antes,
Racionalizar este dom de conduzir
as palavras pelas fileiras de formigas dos resistentes tradutores
Infiltrados e manifestados no cérebro
de um rato.
A denominação da palavra escrita surge
Agora,
como um dedo "vaselíneo" enfiado no rabo,
Sodomiza e suaviza os mais desconcertados
Pensamentos alegóricos.
Espumam de felicidade os domínios materiais
Sem nunca esquecer, porem,
O contributo da palavra usada.
Vitima de pudor, Existe como conduta,
acelerando a meia calça de ressaca.
esta ideia previne ,as "burguesias" de
apertarmos as mãos uns aos outros
ou então do cajado pelas costas abaixo
e para cima
De pendentemente do pau e da mão manejadora.
Já o imaginário assiste conformado
Com as horas que passará num espaço fechado
Com loucos semi-nus.
A manifestação instala-se
Como quisesse partilhar esta inocente viagem.
Mergulha assim,
No espesso liquido das transformações faciais,
Aí ,
deparamos com duas previsíveis questões
-As formigas são de ordem social organizadas
-E os ratos são os pesadelos de debilidade mental.
Por esta razão,
Nunca devemos imitar as formigas alegoricamente,
Estas não usam etiquetas nas suas pernas,
Desenvolvem-se através dos seus excrementos sedentários
Como pratica de viveram boca com boca,
Nádega com nádega.
Na realidade constatada,
Mais próximas de nós estas se encontram,
Basta reparar com quem nos cruzamos diariamente nas ruas,
-Olhem lá o viaduto com mais atenção.
No segundo épico da mortalidade natural das coisas
Os ratos, débeis mentais,
Escrupulosamente,
Aproveitam-se dos canos de esgoto da cidade
Já estes, os canos de esgoto,
Encontram-se à superfície.
É de louvar toda esta magnitude perante o ímpeto social.

terça-feira, 23 de março de 2010

a porcaria do mundo nesta passagem secular.

na verdade, escrever implica a substancia química que respira do cérebro como consistência da relação entre o acusado e o transgressor,tais são os choques hiper-térmicos pela
idade de idiossincrasia na pele porosa.
a possibilidade de dizer quem,implica a abertura dos mais compromissos metafóricos atirados contra as paredes culturais como força na razão.
há quem lhes chame de experiências, eu apenas lhe chamo de vida.vida no tempo e no espaço.
de todos os livros que até agora li,objectivamente,não lhes incuto medo,mas eles a mim.
como é uma sensação estranha,sabendo o terror das palavras ,as novas ,as velhas,as outras,as que nos moldam e nos tornam assassinos das mesmas,quando estas são "sobrelotadamente" usadas, sem qualquer entendimento ,sem qualquer realidade ou sentido.
pois então,mostrar ao mundo o que deveria ser o adiamento inovador literário,é reinventar um rosto no pensamento, cheio de problemáticas afirmações existenciais com um consciencialismo perturbador visionando "utopicamente" a realidade, a porcaria do mundo nesta passagem secular.

quinta-feira, 18 de março de 2010

como quem tem facas escondidas dentro da pele

Sempre vivi o pânico todas as vezes que te escrevia, tinha esta escrita réptil, esguio para os buracos que se encontram no meio das pedras, sim, porque existe esta vontade de chorar flores no lugar do coração, é como agora te entendesse, no mínimo faço este esforço, que afinal não é esforço nenhum, és como as pedras que são, as que são, belas e como as flores no esplendor da primavera. Escreves, como quem me olha, como quem tem facas escondidas dentro da pele, dentro da carne, cortando-a carne e depois a pele. Uma vez contei-te uma história das sereias a cantar. Queria que fosses tu, se eu morresse no fundo do mar, afinal seria no teu navio gaivota, que voa lento, que queria morrer. Dir-te-ei que tenho uma paixão por ti, desde os primórdios, desde sempre, desde a tua existência, desde que a soube. E sabe-me bem agora falar sobre isso, falar, seguir o rasto, o teu, e deixar que a memória trate do resto, que o construa. Vezes houve que um coagulo escrevia uma canção nocturna para te dedicar, não saberia eu que a noite vem me buscar para te ler. Ainda bem que aqui estás, para mim. Ainda bem que sobram sílabas lume que relatam melancolia de um coração ao abandono.

não há homem agora nem sequer noite

já me foi imaginado o amor nos ossos no peito
do homem que se entrega às dolências da rua sem candeias.
já fora morto este homem que tu bem conheces
das noites vazias em lume
quando se atirava às luzes estilhaçadas de outras bocas .
não há homem agora nem sequer noite,
sobretudo existe cansaço da espera.esta,
minha e tua.
na memoria resiste apenas chuva e sol,
o que chora e o que queima a própria memoria
.por onde vamos nós
,minha amiga das palavras de dor e sangue
e a quem nos pertence este jardim de versos intermináveis.
gostaria de encontrar um pretexto
para dizer que não te amo.
estaria a enganar o corpo e o coração do homem,
estaria a deitar-me na rua nu,,
ou estaria eu a inventar vestes num corpo
e num coração que é teu.
já me preocupei mais com os alicerces da vida,
já me dei a outras sombras miando no vazio
.meus dedos agora são chumbo,
são árvore com a desculpa de morrer só.
também sei que o azul das ondas do mar
onde as sereias te cantam
te comem os dentes e depois o leito.
e que não existe outra solidão que não esta que te geme o escrever.
queria partir hoje,
beber-te na insónia tal
como beber-te o interior do corpo.
é o que faço agora afinal,olho-te simplesmente..
dizer-te que a cidade onde sou extensão, não te espera,
é dizer-te que a minha existência é
apenas um lápis que te escreve ,sem sonhos.

semáforo

a passadeira vive
para alem do homem
debaixo do homem que a pisa
do homem que a faz na cidade
muda
dentro do homem
que dentro beija
em pensamento o beijo
real da mulher
entre os trinta segundos
que demora o semáforo a mudar
depois de descobrir o beijo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

o bicho homem poético

Porque não lhe chamarei de umbigo ou outra coisa presa ao umbilical dos pensamentos
Dar-lhe-ei um nome bem mais peculiar como exemplo: bicho.
-Serás a minha sentença como peça que falta encaixar para completar o suicídio deste raciocínio.
Nada mais estranho,
ter formigas percorrendo todo o corpo assistindo à mutilação do corpo ,este se expõe à mediocridade dos pensamentos.
Há quem lhe chame de louco, recorro, neste caso, à sua insanidade e a Foucault para melhor me associar a esta depreciativa arrogância.
Mais tarde, direi mesmo que nada corre nas veias dos armadores em amadores de consciências facultativas e experiências Artudianas, estas, as ultimas compreendidas como surrealistas, humorísticas e bem esplanadas numa big bifana que acabei de comer.
de resto, permitir que o registo, no seu maior e perceptível complexo aparelho mental, morre de uma carência medonha de morrer sozinho, tal o pensamento fragilizado pela curiosidade providenciada e peculiar.
Nunca tais toxinas aventuraram-se neste corpo de perfeita saúde poética,
Compreendo, claro está, que a analítica embriaguez do poema carne retorna à mesma significativa importância de dizer o que lhe convêm,
Neste caso, deveria ser o mesmo espelho subjectivo de quem bem escreve.
O bicho, contrariamente a quem nada diz, percorre como uma bússola e assombra aos grandes poetas da literatura portuguesa da actualidade, devemos escrever poemas de amor fácil, sem a dor de os transformar em dilemas.
Não creio na sua absolvição mas sobretudo no seu ímpeto reconhecimento.
Assim sendo, a palavra para além de ser usurpada é deturpada é feita de merda, aqui somos todos românticos juntos dos delírios dos toxicómanos à força de esperma nos umbigos dos mais atentos e perspicácia dos notórios da palavra sangue.
Todo o pormenor desta dúvida é subjacente no pensamento, que mais tarde viverei uma acusação dos mais puritanos, semicerrados anzóis das palavras livro.
Esta madeira é de luto!
Como promessa de uma nova esperança ou seja, uma cortina deveras rasgada na ânsia de provocar qualquer ínfima razão, para causar alegria.
Quanto mais depressa se julga mais o buraco da ignorância se preenche e toma conta de quem se diz inocente. A verdade apenas resiste à sua tolerância se esta se afirmar sobre a verdade.

sábado, 13 de março de 2010

No espaço sobrevivente no interior das veias

Que os outros não saibam
o que por aqui escrevi,
Mesmo que lhes mostre o quanto de mim dói,
nos sais do rumor da ferida.

Que os outros não me caibam
no coração
No espaço sobrevivente no interior das veias
na passagem da sombra corroída das ruas
E no rasto dos dedos sob o teclado das paredes melancólicas

Que os outros não se esqueçam
Quando deturpam as palavras saliva
a gaveta da aceitação inconsciente da vida
No roupeiro, visita de vez enquanto a paixão
na metadona
por sentirem apenas uma saída
Que os outros nada dizem.

Como lama entranhada no cérebro
Molda-se para evitar o conflito do inconformista
E cai como um corpo inanimado sobre as flores,
uma língua de fragrância de caule lodoso

Os papéis estão soltos neste momento
A mente está limpa;
deitei os papéis soltos fora
Da vida,
no pretexto de viver mais vida

Incendiei o caixote do lixo
E assisto à sua imolação
Corpos e corpos de letras metafísicas são devorados pelo lume
Cortante, crepitante
Tudo isto
assisto na embriaguez da pele

Que os outros não saibam
Que a minha cabeça nunca encontrou este lugar
Esta cidade onde fui feliz.

terça-feira, 9 de março de 2010

A boca no nu da satisfação

Não há mulher
Se o amor não trilha os dedos as mãos a boca
Não há mulher
Se o amor não trilha o peito do homem nu
Não há nu
Se a boca não trilha o pássaro o umbigo
O seio da mulher feita
Não há satisfação
Se o homem não trilha a mulher
Nos dedos das mãos nuas
Como uma dávida de trilhar
A boca no nu da satisfação
Não há mulher não há homem não há satisfação
Se nunca houve amor.

quarta-feira, 3 de março de 2010

uma criança no encobre do robe

uma criança no encobre do robe
espantalho
leva o chapéu do pobre
ao choro de quem morre
da palavra da mão palha
espartana cegueira
ou peneira desta forma
que nunca amor seja
quando beija três
única e três
nem dois nem um
do outro lado do chapéu
camaleão
na caixa de fomento atento
um dedo vale um segredo
de que uma vida de medo

segunda-feira, 1 de março de 2010

Com os Cães negros enormes que trago dentro

Tem vezes que queria chorar-te
Com os cães negros enormes que trago dentro
Mulheres atrás do bar servindo
E homens que acreditam em deus gemendo
O amor por elas

Tem vezes que queria chorar-te
Os cães negros enormes que trago dentro
Fazer desporto radical numa camisola azul às riscas castanhas
Jovens conversando
No entra e sai da porta do bar
Com uma garrafa de cerveja na mão

Tem vezes que queria chorar-te
Com os cães negros enormes Que trago dentro
Como eles fossem capazes de voar
Entre quem dança musica de intervenção
Com aquela gentil voz a borbulhar nas tampas descartáveis
De Garrafas de cervejas partidas no chão

Tem vezes que queria chorar -te
Com os Cães negros enormes que trago dentro
Chorar-te dos sonhos, dos amores, dos objectivos
Do que somos por dentro
Dos cães negros enormes que trago dentro

Mas não posso enquanto tiver esta borbulha
No lábio inferior direito.
aprendi que,
todo o desejo deve ser no mínimo sensato..
ando cansado de pedir a lua
para entregar aos corações dos outros.
tempos houve que me apaixonei de verdade contudo,
renunciei com medo de não estar à altura de tamanha magnitude,
agora
não creio que ande apaixonado por um único amor..
ando apaixonado sim,
pelas palavras ,
vivências e opiniões dos amores que até agora conheci.