sábado, 13 de março de 2010

No espaço sobrevivente no interior das veias

Que os outros não saibam
o que por aqui escrevi,
Mesmo que lhes mostre o quanto de mim dói,
nos sais do rumor da ferida.

Que os outros não me caibam
no coração
No espaço sobrevivente no interior das veias
na passagem da sombra corroída das ruas
E no rasto dos dedos sob o teclado das paredes melancólicas

Que os outros não se esqueçam
Quando deturpam as palavras saliva
a gaveta da aceitação inconsciente da vida
No roupeiro, visita de vez enquanto a paixão
na metadona
por sentirem apenas uma saída
Que os outros nada dizem.

Como lama entranhada no cérebro
Molda-se para evitar o conflito do inconformista
E cai como um corpo inanimado sobre as flores,
uma língua de fragrância de caule lodoso

Os papéis estão soltos neste momento
A mente está limpa;
deitei os papéis soltos fora
Da vida,
no pretexto de viver mais vida

Incendiei o caixote do lixo
E assisto à sua imolação
Corpos e corpos de letras metafísicas são devorados pelo lume
Cortante, crepitante
Tudo isto
assisto na embriaguez da pele

Que os outros não saibam
Que a minha cabeça nunca encontrou este lugar
Esta cidade onde fui feliz.

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