segunda-feira, 14 de abril de 2014

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Ode às Mulheres




silêncio faz doer as pontas dos dedos
quando a cor dos olhos das mães
são as mesmas cores da terra em que nascemos


por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

quando o mais fácil arde dentro do corpo
a volúpia dos poetas e o coração dos mesmos
somos nós que procuramos
as sensações de conforto de outros tempos celestiais

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

as mulheres tiram os seus panos crus
na hora incerta de uma canção
quando os seus passos de fogo nus
são o núcleo do grunhido vivo
na hora incerta de uma canção

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

as mulheres amam as esculturas dos anjos
o palato dos mesmos
bocejando nos seus umbigos e nas suas coxas

as mulheres amam os seus umbigos
as mulheres amam-se nas sombras dos pecadores
amam as praças carregadas de pássaros quentes
amam o vento nas penas dos pássaros quentes

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

as mulheres amam a vertigem do vento 
as mulheres amam a versatilidade do vento
e a boca dos cavalos

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós 

o leite pálido das luas das unhas
é a mão de todas as mãos que eu tenho
e a cabeça escreve em surdina
sol casa rosa mãe

e o nome desta cidade 
e a volta por cima do nome
e a corda na língua da cama
e a cama redonda a farsa
e a máscara dos dias cinzentos
e os ventos na ponta dos dedos
e os gemidos na língua acesa
e a mesa sem ti! 

por isso choramos 
quando lembramos que estamos sós


















segunda-feira, 1 de abril de 2013

a simples existência do homem ou o poema da criança do Nada

a vida é apenas o cenário onde preparo a saída do poema, é o verde humilde que está prestes a morrer. enclausurada, uma barra de ferro brilha repetições nos ombros e nas costas -afilhada cinzenta das tragédias gregas! a vida é uma sucessão de jogos: entre o relógio de areia e a casa de porcelana quente, entre o cavalo de barro vermelho e adão, cego, bebendo enxofre da mulher triangular.

a neblina do próprio Eu adensa-se e no nome do silêncio maduro as estrelas perdem-se nas cavernas forradas de ouro -lâminas cortando simétricas as revoluções crepusculares.

que outro simulacro abre fendas no coração do homem que se ajoelhou de cabeça baixa sem honra nem orgulho -mármore negro. que tarde finda traz a mulher com a criança nos braços e na sua rédea a foice cansada do campo de trigo. para quando a palavra perfeita que na virtude se acende de morte ou de ideia.
na ampla paisagem da vida onde o mar de Todavia revela-se na gaveta, o tempo do sonho alimenta-se da constelação dos planetas profundos e a mulher liberta a criança do Nada e dá-lhe o leite do seu peito, enquando o homem ergue a cabeça da razão e o que fica do passado é o simples desgaste de um abraço interminável de dor e de palavras.

terça-feira, 19 de junho de 2012

sobre um poema de Joao Bentes, tudo se resume a: comer ameijoas do tamanho de quem se esforça a trabalhá-las.

terça-feira, 27 de março de 2012

nunca disseram o meu nome.nunca, me disseram que, o diriam em voz alta.duvido que alguém o faça..a não ser o luis, o meu bom luis. a essência do meu eu estará sempre no corpo dentro e não nas calças esquisitas que eu uso. os outros passarão fome das palavras eu passo a fome pela boca. passo fome sim. se é isso que importa para que apareça o meu nome no correio da manhã

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Aleph

O Aleph (no original, El Aleph) é um livro de histórias curtas de Jorge Luis Borges, publicado em 1949 e contendo, entre outros, o conto que dá nome ao livro. Ambos são representativos do estilo de Jorge Luis Borges e da escola literária latino-americana do realismo mágico da qual ele é indicado como uma das manifestações mais originais[1].

Os contos do livro Aleph são: O imortal; O morto; Os teólogos; História do guerreiro e da cativa; Biografia de Tadeo Isidoro Cruz (1829-1874); Emma Zunz; A casa de Astérion; A outra morte; Deutsches Requiem; A busca de Averróis; O Zahir; A escrita de Deus; Abenjacan, o Bokari, morto no seu labirinto; Os dois reis e os dois labirintos; A espera; O homem no umbral; e, finalmente, O Aleph.

Quanto ao conto, Aleph, especificamente o protagonista, depara-se com a possibilidade de conhecer o ponto do espaço que abarca toda a realidade do universo num local bastante inusitado: na cave de um casarão situado em Buenos Aires, prestes a ser demolido. Este ponto recebe a alcunha de Aleph - a letra inicial do alfabeto hebraico, correspondente ao alfa grego e ao a dos alfabetos romanos.

A ideia de unidade na multiplicidade é tema borgiano por excelência e, no conto em apreço, sua exposição literária é primorosa.

FONTE: dictionary.sensagent.com

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

em cada ato
a caneta sobe à malha da vida
sobe à fortuna das perguntas
à idade das ilhas modernas
à idade das cidades da tinta queimada
respira o dia seguinte
o dia negro que é da terra
que ainda é do dia-terra
boceja as palavras homem-ritmo
e a música acompanha-a
em cinco braçadas da respiração
para forçar a hora para forçar a ida

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ao Sr.Ene

queria morrer mais cedo
mais cedo ainda do que os anos vividos
porque nada disto me interessa
porque nada disto
se ausenta nos passos dados à sepultura

os livros a encher-se nas prateleiras
as mãos serão sempre de marfim feitas

queria morrer mais cedo
dentro do homem dentro da planta da cidade lenta
queria possuir a morte
ou a morte antes desta que me visita mais cedo
queria

que dor se escreve na morte visitante
que morte? para quem escreve a dor

sábado, 12 de novembro de 2011

o dorso escrever

ser o umbigo na manhã impossível desta página
o ventre da página viagem e pedir a tua mão
se outra mão sentida não for
o instante aberto à pureza.
amar a pureza da escrita
o dorso escrever
escrever-te sempre
para magoar as palavras na tinta do dorso
beijando-o.

domingo, 23 de outubro de 2011

na falta que me fazes

Fazes-me falta na semente da claridade do segredo. Fazes-me falta na penumbra da estrada desfeita. Rasto da noite animando uma história antiga. Sim, fazes-me falta. Nos lugares que nos esperam, no sorriso desses mesmos lugares. Como fossem castigados por viverem demasiado os beijos e os filhos do amor eterno. Fazes-me falta. Já o tinha dito. Haverá tempo que sobra. Haverá a cama dentro do peito. Haverá quarto e roupeiro dentro de um quarto de tempo. De nada me agrada esta máscara por cima das senhoras adormecidas. De nada me agrada este murmúrio pancada dentro das mesmas. de nada me faz falta na falta que me fazes.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

CURSO das ARTES de PALCO

A A.R.C.M. apresenta


CURSO das ARTES de PALCO





- DANÇA CRIATIVA



Nov: 7, 14, 22, 28. Dez: 5, 6, 10.

Preço: 20 euros individual / 30 euros par.

Info: 91 610 26 20 / cursoartespalco@gmail.com



- LUZ E SOM



Nov: 8, 15, 21, 30. Dez: 5, 6, 10.

Preço: 30 euros.

Info: 91 743 73 49 / cursoartespalco@gmail.com



- POESIA



Nov: 2, 7, 14, 21, 28. Dez: 5, 6, 10.

Preço: 20 euros

Info: 91 902 91 99 / cursoartespalco@gmail.com



- TEATRO



Out: 17, 18, 19, 25, 26. Nov: 1,2,8,9,15,16,22,23,29,30. Dez: 5, 6, 10.

Preço: 50 euros.

Info: 91 724 24 55 / cursoartespalco@gmail.com

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

na orla superior do vento

turba de cabelo na orla superior do vento
abraço ao tempo o corpo
sempre
a roda aroda a forma mais subtil do circulo
no circo
na unha a punha

-direis ao vês dos bens em vez de serem três,
ao centro do vento
o calor da fissura?

terça-feira, 31 de maio de 2011

Caímos pelos braços, as unhas de papel cimento pintadas, e pela primeira vez as palavras ganham o tempo nos murmúrios salgados.

Dividimos, subtilmente, a matéria dada da terra choro, o copo de vinho na garganta de cinza e dizemos «amor» na hélice de corpo inteiro, na manhã encostada à cabeça.

Pronunciamos: bandolete.

E o corpo reflexo entra na luminosidade da esfera poema, frígido, por não ter cumprido a profundidade de cada verso.

Cada movimento do verso.

Antes, todo o corpo dissipava a linha ténue do sol, antes ainda, embalava o meu sono no ventre do algodão riso. Depois, arremessava-me as feridas, impetuosas, sobre a consciente densidade do inútil. Pobre, podre, inútil. Enquanto, neste insaciável abandono da carne dormia, o esperma frágil da constituição das asas de branco leve, impenetráveis.

Assim, comíamos a boca do tempo, a silhueta do próprio corpo, como se comêssemos todos os continentes da desordem, e pedíamos, enquanto tudo num todo de assimilava, a matéria viva, a transparência, do que foi feito o nosso amor.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

uma borboleta equilibrista

somos a respiração feita, os dias consumidos pela luminosidade, as pálpebras de incêndio, o limite e o taciturno limite partindo os passos de iodo, o lastro lento, o lastro lento lendo, a metamorfose.
escrevemos, dentro , a melancolia sentida para sobreviver.
assim lembramos, o olhar:
-uma borboleta equilibrista de orvalho pesando sobre o rosto,
sendo o rosto, lamento do ainda, do ainda de não ter sono. é neste sim, que todo o ser deve poder-te cantar, estas as palavras.

sábado, 14 de maio de 2011

o estranho guarda-chuva

No laboratório do instrumentalista, hospício de atmosferas educativas, celebra-se a transformação generalizada pelos cambiantes mutantes de ortografias e biografias.

Homens sem H e mulheres reclusas, das instituições semi-religiosas criam uma espécie de catedral cosmopolita, que mais parece pela confusão, uma torre de babel arruinada, repercutindo propagandas de inteligência, o que já não é mau de todo, às eloquências influentes.

Desdenham,
porque não sabem desenhar, a admiração pela percepção sentimental, quando depois de um dia de trabalho são, banalizadas para os grandes oceanos, dos livros de cabeceira, livros light, que de luz e leveza nada têm.

Estes homens e estas mulheres são dotados de uma extraordinária memória...

memória suicidária!

Esquecendo-se facilmente, da audácia, da importância da palavra e da liberdade de criar e dizer algo que seja.
É compreensível!
E por mais que esboçam honestidade,
o resultado final não é mais do que um rascunho insignificante de um momento furtivo.

Quando se pede uma voz activa, segura, assertiva...

O exigido canto do cisne,
não passa mais do que, um engasgo escandalizado, sem excepções ou ornamento pelo manifesto verificado!
Pedem-se, cordialmente discussões e o resultado são tumultos de canções roucas, um arroto distraído e o eco que se ouve, está claramente infectado por um vírus económico consumista proveniente de um pensamento viscoso egoísta.

Conclusão:
os intervenientes são uns incompreensíveis frustrados.

Todo o homem é construído de pequenas coisas e todas as coisas pequenas do homem fazem o construtivo do ser construído.
Todo o homem é construído facilmente pequeno.
De pequeno se torce o pepino com a esperança de sermos um dia grandes hortas, e nas hortas plantar espinafres será o homem que os come, o marinheiro.

O bom marinheiro é aquele que encontra no ente a libertação.

Sempre fui um bom navegador, também sempre fui um bom homem. Desejar o que dos outros é tido como direito não me parece sensato.

Todo o homem, na universidade dos seus complexos idiomas numa conferência evolutiva, combate harmoniosamente os seus “ eus ” estados de alma pelas profundas vísceras como manifestação de libertar todo o ser pela bílis, mais tarde pelo ânus.

Grita!

Sofrei irmãos da escrita vaidosamente este ímpeto de dor trágico. Enaltecei o que defecais! Porque assim é, íntimo, o filho que sempre vos cheirou bem. Comei os segredos do que extrais, os medos efeitos da arte. E como sempre será desconhecido este satisfazer; as parcialidades do homem.

Já se encontra desgastado o corpo que continua libertando da solidão a repulsa do coração intrínseco assim, para além da carência de marcar estabelecimento entre a palavra dita e a outra, a escrita, encaminha-se pelas sombras maiores do abismo revelando pela igualdade das secreções da garganta com o mesmo idealismo assumido da carne sublime fresca o ser rejeitado sempre com a mesma coragem de prosseguir com lâmina na ferida e ouvir, enquanto esta corta a dor, o seu desejo de escrever.
Que pureza estará este desafogo a conter, delicadamente pensado nos homens. Nos seres demasiados cansados ao ouvido maleável. Procura-se o metal, escondendo-se as facas, anulam-se as promessas feitas antes, sendo a viragem uma música que incessantemente regurgita nos pensamentos.

O homem que sempre foi, rodeado de prazeres, se esvai, ficando como contradição gordo, invulgarmente gordo, involuntariamente pesado, continuando a negar o artista, este ser feito de suposições recreativas.

Por ser assim, mede-se o sono dos dedos tal como a grandeza das interrogações.

A seu tempo,
A seu tempo, a lâmpada brilha mais forte, exuberante é como sempre foi este mundo maldito de necessidades. Procura-se a renúncia e a renúncia é, uma lança flamejante envolvendo um corpo sombrio de interjeições. É, a seriedade inconveniente ao discípulo ínfimo e egoísta, a que se chama:

A cobardia do homem.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Estamos.


Na arte nossa, murmura um livro. Uma canção. Dormem como ninguém outras vozes. As linhas dos dedos pigmentados. Lascas de sementes únicas. Mas eu quero dizer-te hipérboles, ou então, serão borboletas mascando o estômago. Mexendo dentro, agitadas, quando uma breve satisfação contempla, taciturna a noite.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Batem as folhas da luz um pouco abaixo do silêncio.quero saber o nome de quem morre: o vestido de ar ardendo, os pés em movimento no meio do meu coraçao." herberto helder in Ofício Cantante

domingo, 10 de outubro de 2010

A cabeça tem um adeus em chamas
No dobrar da caneta
Como queimasse
Os cantos às cegas
Em tua direcção.

-a temperatura das forças

Se me permites,
Sou a empregada da casa guarda-roupa
Rindo berlindes distorcidos no chapéu chuva.
E tu,
Morando na pele de qualquer ser extinto.

-sabes da barba por fazer
Da garganta em flor
Numa garrafa de vidro sangue

A ginja tem um hálito fresco como
Sempre foras doce
-E como me dói a traqueia.
A lâmpada.

-se ao menos
O gesto do ferro fosse a empregada.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

foi sempre a verdade,
percorrendo a terra
dentro do corpo dado,
que o coraçao salivou uma ultima vez.

sempre foi a verdade,
enaltecendo o vestido negro
coberto de asma
que a pupila lenta do fantasmagórico
encontrou o seu aconchego.

foi sempre a verdade,
ou nao haveria sentido
sempre que dobramos os joelhos
em busca de perdao
ou nas ruas de calor intenso
do corpo
falaríamos a quebra dos ossos
mordidos pela palpitaçao
lacrimal dos sentimentos.
foi sempre a verdade,

esta morte que se come da terra,

que alimenta as melancólicas
antivisoes do que sempre foi a verdade ,
esta estranha,
a morte na espera.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010




Nick Cave Thirsty Dog Lyrics:

I know you've heard it all before
But I'm sorry for this three year war
For the setting up of camps
and wire and trenches
I'm sorry for the other night
I know sorry it don't make it right
I'm sorry for things I can't even mention
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm sitting feeling sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm feeling very sorry in the Thirsty Dog
You keep nailing me back into my box
I'm sorry I keep popping back up
With my crazy mouth
and jangling jester's cap
I'm sorry I ever wrote that book
I'm sorry for the way I look
But there ain't a lot that
I can do about that
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm sitting feeling sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm feeling very sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry about the hospital
Some things are unforgivable
That things simply cannot be forgiven
I was not equipped to know how to care

Amnd on the occassions I came up for air
I saw my life and wondered
what the hell I had been living
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm sitting feeling sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm feeling very very sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry about all your friends
I hope they'll speak to me again
I said before I'd pay for all the damages
I'm sorry it's just rotten luck
I'm sorry I've forgotten how to fuck
It's just that I think my heart
and soul are kind of famished
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm sitting feeling sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry, sorry, sorry, sorry
I'm feeling very sorry in the Thirsty Dog
Forgive me, baby but don't worry
Love is always having to
say you're sorry
And I am, from my head
down to my shoes
I'm sorry that I'm always pissed
I'm sorry that I exist
And when I look into your eyes
I can see you're sorry too
I'm sorry, sorry, sorry
I'm sitting feeling sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry, sorry, sorry
I'm feeling very sorry in the Thirsty Dog
I'm sorry, sorry, sorry
I'm feeling very thirsty in the Sorry Dog
I'm sorry, sorry, sorry
I'm feeling very sorry in the Thirsty Dog

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Hoje queria chegar-te mais perto,
Romper com o homogéneo das ruas cinzentas desta cidade
Cegar-te os sentimentos que no corpo
Abriram fendas antes.
Dizer-te ao coração das mãos, canções dos antepassados,
Trilhar as linhas das horas sempre que o tempo pára.
Hoje queria pedir-te desculpa
Pelo meu atrevimento, insolência,
Porque tu és daquelas desenvolturas que gritam por dentro,
Que precisam de adormecer antes do novo dia,
Beber um copo de chá depois da noite,
-quando as sanguessugas caóticas dançam desesperos, malogrando a carne dos seus quadris.
Era bem mais correcto, inventar um livro novo, inventar novas personagens nos pensamentos que não dormem.
Tenho insónias, desde que me contaste o sonho,
-a inclinação do corpo, a jugular aberta pelo objecto-escrita , uma esferográfica, talvez, ou então a folha de um livro servindo de lâmina no pescoço.
-somos bem mais promíscuos do que os sonhos porque nós somos a realidade perceptível dos mesmos.
Não irei explicar-te a minha indigência de passar os dedos pelos teus cabelos, cheirar os teus cabelos.
Tal como a carência de procurar os teus lábios. Redescobrindo-te o rosto. Luz.
Queria uma lâmpada em direcção ao teu rosto, para me lembrar dele sempre que fecho os olhos.
Declino-me para dizer-te que és linda,
falo da casa que trazes dentro de ti, um voo de qualquer pássaro livre sempre que sorris.
Quanto tempo, para que um pedaço de terra me acolha, porque a cegueira que me falas fora, amoras silvestres revestindo o pensamento único.
“Trago-te o coração nas mãos, queres pegar-lhe?”
Construi-me ausente, nas dobras da cama febril, nas insónias,
Esquivo-me para o café nos lábios e salta-me o apetite de ter-te agora.
Tenho vontade de morder-te o sono.
Queria que viesses comigo dançar os homens pássaros mas não consigo, dormes, então fustigo os cães dentro do homem carne.
Atravesso o teu corpo, com beijos, esperando que a tua pele expire a agitação que carrego nas veias.

Sabe a pouco este momento, sabes-me a pouco no muito que me dás.
Lamento.
Lamento o homem que se esconde por detrás da imagem poética, o homem casulo das frases feitas, queria repetir-te outras noites, beijar-te o sofá abaixo do ventre, incendiando-te o sono.
Olharás por mim?
Olharás para mim mais uma vez, sequer?
Sinto-me vazio quando preparo a fuga.
Devolveste-me a chuva dentro do que é teu, dentro do corpo meu, sempre soubeste que as feridas demoram imenso tempo quando ardem por dentro.
Soluço um cansaço interior, de resto, como de costume.
O cansaço devora a saliva do sol, sempre que lhe apetece ficar mais um pouco.
Ressurgem partículas de vidro fresco pelas paredes brancas da casa,
Fala-me mais uma vez de ti, da casa. Fala-me das árvores que têm nome das danças.
Sei que danças.
Ensina-me os passos das respirações,
Como chegar até ti, dimensiona-me.

-A primeira folha da árvore despede-se do orgasmo que a casa concebeu.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

chuvas a r

queria dizer-te lá fora o amor,
deixar-te, se bem me lembro melancolia
nas chuvas de r
sem esperança para o novo amanhecer
talvez a noite
no jardim onde se senta o corpo
o banco;
de nada trazia senão a benevolência
moldada na boca fechada
um cigarro fora.
numa cala,
uma menina aproxima-se e fala-me
com as mãos em meus ouvidos -embriagados
os ombros.
sentir a epiderme dos seus lábios.
sabendo ouvir os dedos brincarem no rosto.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Leituras 15 - Caopoeta

Pois é, uma marca marca a diferença. Nos dias que correm uma marca, por vezes, e muitas vezes, vale mais do que a empresa ou instituição que identifica. É a força do marketing. Um exemplo, nesta introdução sobre este autor, Xavier Zarco hoje é mais do que a própria obra. O seu valor supera o valor da obra, tal como, por exemplo Google vale muito mais que a empresa em si. Se as empresas ao nível estratégico devem ser definidas de forma a cumprirem as três valências: financeiras, sociais e ambientais; as marcas devem comunicar eficazmente para que tal seja cumprido.

Voltando ao assunto, Caopoeta, melhor: Cão Poeta; é algo que chama a atenção e chamou-me. Depois, soube prender-me pela arrogância de escrever, simplesmente dizer, ter a veleidade de dizer, que não queria saber dessas coisas das regras ortográficas: digitado estava e como digitado ía.

E eu continuei a lê-lo.

É um dos autores que tenho acompanhado, sobretudo porque possui uma imaginação e um poder de observação bastante bem cuidados, isto é: os seus trabalhos conseguem transmitir segurança ao leitor, ao nível do que o circunda, mas vendo-os sempre por dentro, isto é: o autor incorpora em si as múltiplas leituras que faz para, posteriormente, as levar até ao outro.

O melhor exemplo que posso encontrar é o do nosso sistema digestivo: entre o que colocamos na boca, o que aproveitamos e o que excretamos, há diversos estágios e o Rogério de Fradelos sabe-o bem, domina-o, dando-nos somente o que este aproveita.

Como exemplo, deixo-vos o convite para a leitura de: memórias de um amnésico, que, embora de dois mil e nove, é sintomático de uma organização interior, que, só após a depuração, pode ser pública, ou, mais recentemente, A Gaveta de Pedra; trabalhos onde o autor promove uma auto-exegese, não no sentido comummente atribuído a esta palavra, exegese, mas algo mais vasto, não circunscrita aos textos bíblicos.


Xavier Zarco


http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=137625
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

sábado, 19 de junho de 2010

Não me Peçam Razões...

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

domingo, 13 de junho de 2010

o amargo de outras roupas despidas no corpo

neste hoje
lembro-me do cheiro de fugir para dentro dos búzios
e ouvir o silencio de outras presenças,
outros grãos vivos,
sinto medos criados a partir do cigarro adormecido nos dedos,
quando penso
na insónia a percorrer todo o corpo
com o mesmo desejo de morrer só.
repito a palavra amor submersa na tempestade.
Amor,
por vezes,
o silencio ri do homem
outras vezes nem o silencio bebe o homem que o produz.
queria ao dobrar da esquina,
sorrir-te.
queria a dobra do teu sorriso ao ver-te.
por hoje ,neste hoje,
o algodão do que a tua pele expele é pesado.
ferida aberta de asco que outrora beijei.
Sinto,
Desprezo de outras madeiras na boca dos seios.
neste hoje,
viro-me ao contrario na cama que também foi tua,
e faço deste avesso do corpo a volta,
a procura da ferocidade dos que calam,
espero que ela me chegue até ti.
Demasiada dor, esta ausência consentida.
Demasiada vida no tempo que foi.
Pensava eu no sossego dos dias,
Na vivacidade da ria formosa.
Mas,
Ao procurar-te o vinho trazia azia,
o amargo de outras roupas despidas no corpo.
Neste hoje,
Queria cuspir em toda filosofia de vida,
Queria fazer uma cicatriz no interior do peito,
Abraçar o homem que esquecemos na praia,
E esconder-me de ti .
I

Os seus lábios são respirações livres às coisas; lua
No brilho louco de se maravilhar por cima da terra
A terra
Do pêlo de um cão branco
Conseguia lamber-lhe os pés suavemente
Com a boca de carne
E nas mãos de e do azul celeste
Quando se estala
No sorriso do vinho maduro ao jantar
Bebido salivar bebido
Na testa
Uma ternura traçada pelo calor dos dias

II

É verão hoje
Revivido no instante pasmatório das fotografias
Trazia uma saia comprida e usava uma fita amarela no cabelo
É impossível morrer nesta boca assim ou
Comer pétalas de rosas oferecidas No ouro
Como beijar-te
Ou sorrir para os reais sonhos nocturnos
Porque és mais do que o cabelo líquido na fronte
És mais do que a parede quente
Tão acesa

Cruza-se o homem para fazer o seu próprio moinho
A sua mascara inofensiva
Ingenuamente onde se estende o rosto leve


III

Amar o barco amar o ruído do mar
Ver-te da doca a cidade e: faro
O que me exalta na tua voz.
Estamos deste lado da vida
Em constante mudança da meia-noite
Trabalhando a videira dividindo o vinho raiz
Dos dias
Os sonhos ou então as horas dentro do silêncio
Somos pausa nestes corpos de algodão doce
Queremos crenças felizes
Homens compreendidos
Na filosofia, de forma sentida,
Ser novamente
crianças nos olhos brilham
Néon desprendido
E rir uma vez mais.

sábado, 12 de junho de 2010

O Abismo (Luís Miguel Nava)

O Abismo

Com a sua pele de poço, pele comprometida com o
medo que no fundo fede e a que, digamos, toda ela adere
de uma forma resoluta, dir-se-ia que se engancha, se pen-
dura, o branco da memória a alastrar pelo corpo, um bran-
co tão branco como o das noites em branco e sobre o qual
a idade, exorbitada, hiante, se insinua, pensos, ligaduras,
impregnados de memória, uma memória onde fulgura a
lava dos sentidos que entram em actividade e lhe dis-
putam os dias idos, assim ergue a balança, onde sustém
o abismo.



Luís Miguel Nava
Vulcão II
Poesia Completa
1979-1994
Prefácio de
Fernando Pinto do Amaral
Organização e Posfácio de
Gastão Cruz
Publicações D. Quixote
2002
Sinto-o
sendo uma tábua rugosa de carne
carne que comeu uma boca expelida de fogo
taciturno
a casa do vertiginoso abismo
a casa deste espaço gravítico
a respiração deste espaço trincado pelos dentes achados ao acaso
a anca canta em cima da tábua de carne
ouvem-se nervos brilhando contra as partes do corpo
da anca
a beleza é o tempo da mão na anca
já foi tempo da beleza na anca da mão
de que serve este fogo taciturno
comendo a boca da tábua
no segredo de aqui estar vertiginoso
no abismal do sacrifício quando espanca o pensamento

quinta-feira, 10 de junho de 2010

sr absurdo

que tens entre as mãos,o que levam as tuas mãos agora entre o espaço.a tua própria sombra talvez, ou um acaso.o caos dos outros rasgam amostras de poesia ,os nossos cães (o trocadilho é de propósito)  são a poesia numa montra.sabe-te bem falar disso.falar da janela entre anos ,nossa memória,para dentro de uma garrafa de vinho plástico.queria-te agora na pele e por isso criei-te no translucido tabaco amarrotado que acabei de enrolar.queria enrolar-me contigo.falar da temperatura do corpo e da temperatura do cu que sentamos no chão.cruzamos as pernas.sinto-me como te sentasses comigo.

A Mar

terça-feira, 8 de junho de 2010

alejandra pizarnik

O OLVIDO

na outra margem da noite
o amor é possível

leva-me

leva-me entre as doces substâncias
que morrem a cada dia em tua memória



EL OLVIDO // en la otra orilla de la noche / el amor es posible // --llévame-- // llévame entre las dulces sustancias / que mueren cada día en tu memoria
"não sei ana se já te falei da chuva. se já te disse das flores, de ser primavera lá fora. se te contei de quando me cortei no tórax com uma tesoura - queria tirar-me do peito o coração-, de como no lugar da ferida me cresceram algas. tempos houve em que cortava o corpo, procurava em todas as feridas um pedaço de coração a abater. doía-me tão forte dentro, ana, doía-me tão forte e tão fundo dentro da pele. não sei ana se já te falei de amor, de voltar os olhos para o mundo e ver crescer-lhe flores dentro, é destas flores que te devia ter falado. de como estas flores te enchem subitamente de vida. e o amor também dói, sobretudo quando está longe e o corpo o chama para perto e ele não ouve, é que o amor às vezes não tem ouvidos ana. trouxe-te hoje um segredo, quero dizer-to quando o sol chegar mas hoje não há sol. estou terrivelmente só, ana, trago dentro de mim todas as histórias, marcas de facas e tesouras na pele, memórias que arrastam memórias, de sangue, de dor. de ter morrido já. ainda não te contei de como morri, era dezembro, engoli uma caixa de anti-depressivos, lembro-me de ter escrito um pequeno testamento, deixava-te os meus livros ana, a ti que nunca conheci, deixava-te os meus livros. o hospital é um lugar frio quando se acorda da morte. eu tinha frio e não havia nenhum corpo ali ao lado, que me aquecesse, que me abraçasse, nenhum corpo, ana, nenhum. morri e nasci sozinha. e digo-te ana ninguém deve morrer só. não há nada mais triste do que morrer só. não sei hoje ana se já te falei da chuva. "

MARGARETE SILVA

sempre ouvi dizer que o amor tem reticencias lá para o seu meio,talvez na palavra M ou então na palavra Ó,porque de ti tudo vem intenso e se agita no ar,neste ar que se precisa para respirar,outros chamam-lhe oxigénio.também sei que quando assim me falas fazes-o com um buraco no lado esquerdo do peito,com um pássaro que saltou do ninho e voou.
querida,
havemos de ter a felicidade a roer-nos os dedos e libertar sorrisos nos desejos.havemos de erguer a taça da loucura racional das palavras e adulteremos a lua em nosso favor.ninguém tem que morrer só.e no final dos nossos dias de impulsos,extravagancias imaginárias, deitaremos o corpo ao mar para que este leve todas as melancolias e que nos traga de novo o acordar ingénuo das crianças melífluas.

"diziam-me de um nome que nascia no interior das veias para fugir à pele. diziam-me que assim se chamava por chorar todas as noites com os pés dentro do abismo. não sei. às vezes via-a do interior da ferida a transformar em sal os glóbulos semimortos. tu nasceste onde o desespero se despe, no lugar de ser preciso o abraço - meter os braços no peito e envolver o coração. muitas vezes tentei alcançar-te, chamar-te pelo nome que me diziam, não ouviste ou não era teu. sempre te quis dizer do medo que ela tinha de fugir, que a dor cabia-lhe no interior do corpo, assentava-lhe bem. talvez depois conseguisses perceber o tempo certo de amá-la, como quem quer do mundo o que de melhor ele tem."

MARGARETE SILVA

nunca quis realmente falar-te sobre o que sou,sobre mim.
sempre esperei que alguém me matasse o coração numa nua concha fechada às intempéries familiares da vida nómada.
sempre pensei desta forma.
caminhar num plano que atravessasse as cidades e depois os campos entre as flores.no final queria chegar até ti.as ruas são a imensidão das bocas que matamos abandonadas.a noite é um espantalho que nunca devemos matar.matamos o amor.escrevo-te pelos os cabelos que ontem cortei.cortei as veias também.é este o desejo que tenho.é de sangue este desejo que tenho.como uma maça comida que desperta a dor.



quinta-feira, 3 de junho de 2010




the plan it wasn't much of a plan
I just started walking
I had enough of this old town
had nothing else to do
It was one of those nights
you wonder how nobody died
we started talking
You didn't come here to have fun
you said: "well I just came for you"

But do you still love me?
do you feel the same
Do I have a chance
of doing that old dance
with someone I've been
pushing away

And touch we touched the soul
the very soul, the soul of what we were then
With the old schemes of shattered dreams
lying on the floor
You looked at me
no more than sympathy
my lies you have heard them
My stories you have laughed with
my clothes you have torn

And do you still love me?
do you feel the same
And do I have a chance
of doing that old dance again
Is it too late for some of that romance again
Let's go away, we'll never have the chance again

You lost that feeling
You want it again
More than I'm feeling
you'll never get
You've had a go at
all that you know
You lost that feeling
so come down and show

Don't say goodbye
let accusations fly
like in that movie
You know the one where Martin Sheen
waves his arm to the girl on the street
I once told a friend
that nothing really ends
no one can prove it
So I'm asking you now
could it possibly be
that you still love me?
And do you feel the same
Do I have a chance
of doing that old dance again
Is it too late for some of that romance again
Let's go away, we'll never have the chance again

I take it all from you
I take it all from you
I take it all from you
I take it all from you

I take it all from you
I take it all from you

segunda-feira, 31 de maio de 2010

sem cabeça

"cortem-me à cabeça parte do coração.levem-me o pescoço, façam com ele uma fisga, lancem-lhe as entranhas.sigam pela noite dentro da cabeça funda, o sentimento. digam-lhe: adeus. depois: não vás. cortem-me a cabeça, lancem-na ao mar, que pense ele por mim, que me afogue o coração."

MARGARETE SILVA



escuta:
o que as flores naturais dizem ao corpo
sem cabeça no desespero
e saúda as que pelos cabelos mais belos
tocaram as suas mãos nuas
-a idade da cabeça sem corpo
sazonada
a desconstrução do pensamento
martela as estrelas,nossas
folhas nos dedos
que se deitam sem pálpebras acesas
com os poros dos meses

envoltas-te
ilusão tocando sangue das raízes,
como és bela!
decerto:
falamos a mesma língua dos homens cheios
os que queimam neve ,lembrei-me
da cidade que caminha nos teus sonhos,
nossos também,
dos pulmões a cabeça faz parte.

domingo, 23 de maio de 2010

querer
a boca nada mais imagina a carne
-que interroga o caminho do cão branco
ingénuo
as mãos são apenas escamas e voam metamorfose
quando a  morte é breve na artéria da palavra doer
é tão grave esta voz
como a dor que a noite desfaz a agudez
da loucura
soltam corações e pedras
no entanto
a descida torna-se leite
mamilo sofá ,cama
talvez
nada seja ;penso
nos campos nocturnos sobre as massas,
ardem,
viajam
na idade de cabeça para baixo.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

quando saímos da rua deitados.




Lavo a mão que se esgota
E saio na barca para a aurora junto da cabeça
Cantando a tarefa dos homens desesperados
Afogando o passo em cada volta de agua
Órfão do verde em sono
E baloiçando deus no leito
Nu, leito da rua selado
Angustia ou desejo tanto faz
Desde que arranhemos a pele no relento
E gritamos a sinuosidade da usura no buraco
Contamos os dias duas vezes
A noite clara e o dia sol
Duas vezes inocente esta hora
Este espaço de hora que se move na sua própria vontade
A passagem bate nos olhos do poeta no coração
E nos pulmões das costas curvadas
Somos a semente
Congestionamos a idade neste momento
E espancamos a lentidão do tempo
Batemos na fertilidade do ar
Nas folhas do morrer hoje
Neste anel de fogo exorbitamos o pão de coisa alguma
Temos o sexo branco no meandro do sangue
Como escavássemos o firme dos nossos remos
Saberemos mais tarde
Que a queimadura na parte exterior da perna esquerda
Vive fragmentos de granito constantes
em bocados sentimentais
E da existência
Partimos as danças ao meio e da garganta dos sapatos
Libertamos as plantas dos pés
A mulher deu-me um livro infantil para a moer
A mão que tocou o seu marfim quente
E a língua que beijou a sua uva canta
Canta as palavras do mar criança
Do velho que coleccionava objectos redondos
O corpo é um peso circular e a ponte é fresca
E prende-se na menina de cabelo amarelo
Amamos a eternidade do vento sul
E a pimenta dos confins da África moderna
Nomeamos as árvores em nosso redor
Bebemos calos do pensamento neste degrau
Transfigura-se a espuma das flores
É o que nos resta na memória saltitar
E por agora somos inacabados
Continuação do encanto jovial
Estamos bem mais gordos quando saímos da rua deitados.

domingo, 2 de maio de 2010

Herberto Helder

As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos
filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe á cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do
amor.

o tambor da máquina de lavar roupa

Chega-te bem mais perto
para que te apercebas desta loucura
De atirar o coração à dobra da rua
E vê-lo partir em pedaços menores
Porque é assim que levantamos o cio dos dedos
E a normalidade melancólica dos dias

Chega-te bem mais perto
Para que a porta da rua abra as suas veias
e queime este filho da puta
numa viagem desculpável de álcool nos olhos
com o medo de viver mais um dia

porque importam as fomes que outrora tiveram os sorrisos das ilhas e as conchas dos bivalves dadas à terra
porque importa dar aos cabelos o comprimento cinza no sobressalto que encurta o tempo

hoje dou uma colher de açúcar ao corpo poema
hoje dou um poema no corpo de uma nódoa triste de café
e levo um cigarro à boca
hoje tenho-te na varanda com o vento maresia das cegonhas
e nos braços tenho-te
perto bem mais perto para te deitar fora
enquanto observo o tambor da máquina de lavar roupa
a girar

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sábado dia 8 de Maio


18:00 horas – Performance Teatral “ A Gaveta da Pedra” por Rui Cabrita, junto à Capela de S. Luís

em loulé.

domingo, 18 de abril de 2010

Dizer-te com o peito perfurado
-uma bala que ficou
Com o sangue nos nervos assassinados
Pelos clientes da morte horas
Entregar árvores aos planetas gemidos
Correr para o óxido da morte tarde.

Hoje cavilha
Hoje vacilo com uma granada na mão
Comido nos ouvidos comidos
Pela virilha da ferida

Que outro pássaro de veste branco
Ou casa
Neste punhal que retirou a bala
Do peito
E nele ficou eterno

Dirão
Agros homens gigantes
Da torre de marfim mais alta
Aguenta o arado meu caro rapaz
A terra
os bois mungindo arfantes
E a boca cantando por detrás de um sorriso cansado

Aguenta o arado
Dirão
Que o coração chora esta lamina

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Pedir o cigarro ao lume
Nos lençóis sujos de sémen
O corpo cola ao corpo
Noutro corpo de cigarro aceso
Não fosse isto
A metade
Da metade sentada na outra parte da cama
Lamber o teu seio
Levantar o teu corpo
Metade -apenas metade de nós
Acreditar que a noite treme nos dedos
E gritar por dentro da carne
Mancha de sexo no ventre
Saborear o ventre da boca
Sossegar a boca
Mover a imagem dos cabelos
Nos lábios e pedir desculpa
Se não chegaste.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Também sou como as cidades

Para quem não acredita,
Hoje sento-me no pouf
Castanho, confortável e fumo um joint
Na varanda do segundo andar
Num prédio que apenas tem três andares

Observo a cidade que lentamente
Estende os pés e
Depois os braços
Na cama das ruas, no asfalto,
na calçada antiga
cidade que tem luzes como cobertor

Ouço
Uma musica de fundo . yann tiersen
-moulin
Vinda do computador pelas colunas emprestadas por
Um amigo
-um bom amigo
(só as colunas são emprestadas)


Penso neste momento em nada pensar
E logo esta notícia percorre todo o pensamento.

Para quem não compreende
Todo este processo facultativo,
Pensar para mim,
é um acaso lançado à infertilidade do raciocínio
claro que,
separar as aparências mentais possivelmente transfiguradas
em grandes e lentas passas no joint
é um gesto minuciosamente pensado
o que me leva a vários fantasmas
e eu
tenho-os, o bastante para constituir uma sociedade
catedrática de atitudes morais,
de aspirações abonatórias
com nivelamento aceitável.

Devido a este pensamento não pensado
O joint apaga-se mais uma vez
O que me leva a constatar que
o movimento gestual praticado pelo isqueiro
é útil para afastar outros pensamentos
menos estruturais ao domínio absolutamente inútil.

Quem me diz
Que a chama do isqueiro
Não causa desprezo aos lábios devidamente ásperos
Pela ligeira corrente de ar que se faz sentir

Lembro que são três horas da manhã,
Sendo ainda assim
que o relógio encontra-se atrasado uns quantos minutos

e por falar nisso…
deixarei para mais tarde o resto do que falta fumar,
também eu sou como as cidades.

sábado, 27 de março de 2010

hoje ,na ponte flutuante da formosa,contaram-me a historia:uma mulher abriu os braços e deixou-se levar pelo vento,pela maresia,pelo mar.nunca mais voltou.
-já começa a ser hábito este morrer,esta vontade de procurar nos que foram, a fuga.nem luzes agora nem cheiros intensos a sexo nos levam para fora dos sonhos.os nossos sonhos.algo roubou aos nossos sonhos esta vontade de gritar:vida!
devemos, minha querida amiga, ouvir a terra com mais atenção, os gestos da terra-mãe.talvez,encontraremos forma de unir nossos pensamentos ,nossos corpos abertos,desnudados,sem pudor e sem fome pela carne.ter-me-ei dado ao teu silencio,como alternativa de não morrer sozinho.porque tenho medo de te perder,tal como a mulher que mergulhou nas aguas do mar e nunca mais voltou.

quinta-feira, 25 de março de 2010

O sol é um cavalo dançante na visão do rato

O dito homem salta para a sela do cavalo
Um cavalo de madeira, um cavalete
Três vezes repete o movimento
Duas vezes cai ,
Segura na palma da mão as formigas celestiais
Estas brilham, são areias, areias num foco de luz
O sol é um cavalo dançante na visão do rato
O homem tem o rosto de rato
O gesto obriga ao esforço mental
Desenvolver um rosto
o homem retira o rosto do rato
Duas faces nas mãos do homem
O rosto do rato e um desenho,um palhaço,

Um homem Enorme,
E uma terceira face
A que agarrou a sela do cavalo na face do homem.
Em qualquer um dos casos
O pesadelo, nuclearmente, surge
( uma criança acende uma flor de papel)
O homem novamente
A viver o pesadelo, com uma garrafa na mão,
Bêbado, tropeça e bebe vinho, deixa-o verter pela camisa,,
Mostra-me os dentes,
dentes e gengivas provocando matéria para as mentes
Menos capazes.
Modifica-se o cenário,
O homem balança sobre os seus pés nus,
De costas voltadas, agora,
De frente para o espectador
Reconheço-lhe a face,
É o mesmo monstro que no inicio apareceu
Uma musica (uma valsa) acompanha todo este cenário,
Tal como boémia,
Este homem com uma sela de cavalo debaixo do braço
vai desaparecendo lentamente
ri, ri alto ,cada vez mais alto, mais louco
um vidro parte no chão,
uma outra personagem ( o velho)a varrer os vidros partidos
para uma casa de papel
uma outra musica caótica surge,
elevando-se o som
pousa o homem a sela do cavalo no centro do palco
uma boneca de trapos como marioneta
salta para a sela do cavalo
uma musica agora infantil acompanha a cena

é tudo bluff.

as formigas e os ratos da cidade crepuscular

É claro, o que não fiz foi
ouvir o álbum Mule (Tom Waits)
Como que isso me levasse ao inferno de Dante
Tendo desistido honestamente
Da fase de ser louco.
Já a coisa se transfigurava no pensamento
Tornando-me mordaz
Irónico humorístico
E artístico
-Havemos la chegar com as cavalarias
Aos cem de cada vez.
Nunca antes,
Racionalizar este dom de conduzir
as palavras pelas fileiras de formigas dos resistentes tradutores
Infiltrados e manifestados no cérebro
de um rato.
A denominação da palavra escrita surge
Agora,
como um dedo "vaselíneo" enfiado no rabo,
Sodomiza e suaviza os mais desconcertados
Pensamentos alegóricos.
Espumam de felicidade os domínios materiais
Sem nunca esquecer, porem,
O contributo da palavra usada.
Vitima de pudor, Existe como conduta,
acelerando a meia calça de ressaca.
esta ideia previne ,as "burguesias" de
apertarmos as mãos uns aos outros
ou então do cajado pelas costas abaixo
e para cima
De pendentemente do pau e da mão manejadora.
Já o imaginário assiste conformado
Com as horas que passará num espaço fechado
Com loucos semi-nus.
A manifestação instala-se
Como quisesse partilhar esta inocente viagem.
Mergulha assim,
No espesso liquido das transformações faciais,
Aí ,
deparamos com duas previsíveis questões
-As formigas são de ordem social organizadas
-E os ratos são os pesadelos de debilidade mental.
Por esta razão,
Nunca devemos imitar as formigas alegoricamente,
Estas não usam etiquetas nas suas pernas,
Desenvolvem-se através dos seus excrementos sedentários
Como pratica de viveram boca com boca,
Nádega com nádega.
Na realidade constatada,
Mais próximas de nós estas se encontram,
Basta reparar com quem nos cruzamos diariamente nas ruas,
-Olhem lá o viaduto com mais atenção.
No segundo épico da mortalidade natural das coisas
Os ratos, débeis mentais,
Escrupulosamente,
Aproveitam-se dos canos de esgoto da cidade
Já estes, os canos de esgoto,
Encontram-se à superfície.
É de louvar toda esta magnitude perante o ímpeto social.

terça-feira, 23 de março de 2010

a porcaria do mundo nesta passagem secular.

na verdade, escrever implica a substancia química que respira do cérebro como consistência da relação entre o acusado e o transgressor,tais são os choques hiper-térmicos pela
idade de idiossincrasia na pele porosa.
a possibilidade de dizer quem,implica a abertura dos mais compromissos metafóricos atirados contra as paredes culturais como força na razão.
há quem lhes chame de experiências, eu apenas lhe chamo de vida.vida no tempo e no espaço.
de todos os livros que até agora li,objectivamente,não lhes incuto medo,mas eles a mim.
como é uma sensação estranha,sabendo o terror das palavras ,as novas ,as velhas,as outras,as que nos moldam e nos tornam assassinos das mesmas,quando estas são "sobrelotadamente" usadas, sem qualquer entendimento ,sem qualquer realidade ou sentido.
pois então,mostrar ao mundo o que deveria ser o adiamento inovador literário,é reinventar um rosto no pensamento, cheio de problemáticas afirmações existenciais com um consciencialismo perturbador visionando "utopicamente" a realidade, a porcaria do mundo nesta passagem secular.

quinta-feira, 18 de março de 2010

como quem tem facas escondidas dentro da pele

Sempre vivi o pânico todas as vezes que te escrevia, tinha esta escrita réptil, esguio para os buracos que se encontram no meio das pedras, sim, porque existe esta vontade de chorar flores no lugar do coração, é como agora te entendesse, no mínimo faço este esforço, que afinal não é esforço nenhum, és como as pedras que são, as que são, belas e como as flores no esplendor da primavera. Escreves, como quem me olha, como quem tem facas escondidas dentro da pele, dentro da carne, cortando-a carne e depois a pele. Uma vez contei-te uma história das sereias a cantar. Queria que fosses tu, se eu morresse no fundo do mar, afinal seria no teu navio gaivota, que voa lento, que queria morrer. Dir-te-ei que tenho uma paixão por ti, desde os primórdios, desde sempre, desde a tua existência, desde que a soube. E sabe-me bem agora falar sobre isso, falar, seguir o rasto, o teu, e deixar que a memória trate do resto, que o construa. Vezes houve que um coagulo escrevia uma canção nocturna para te dedicar, não saberia eu que a noite vem me buscar para te ler. Ainda bem que aqui estás, para mim. Ainda bem que sobram sílabas lume que relatam melancolia de um coração ao abandono.

não há homem agora nem sequer noite

já me foi imaginado o amor nos ossos no peito
do homem que se entrega às dolências da rua sem candeias.
já fora morto este homem que tu bem conheces
das noites vazias em lume
quando se atirava às luzes estilhaçadas de outras bocas .
não há homem agora nem sequer noite,
sobretudo existe cansaço da espera.esta,
minha e tua.
na memoria resiste apenas chuva e sol,
o que chora e o que queima a própria memoria
.por onde vamos nós
,minha amiga das palavras de dor e sangue
e a quem nos pertence este jardim de versos intermináveis.
gostaria de encontrar um pretexto
para dizer que não te amo.
estaria a enganar o corpo e o coração do homem,
estaria a deitar-me na rua nu,,
ou estaria eu a inventar vestes num corpo
e num coração que é teu.
já me preocupei mais com os alicerces da vida,
já me dei a outras sombras miando no vazio
.meus dedos agora são chumbo,
são árvore com a desculpa de morrer só.
também sei que o azul das ondas do mar
onde as sereias te cantam
te comem os dentes e depois o leito.
e que não existe outra solidão que não esta que te geme o escrever.
queria partir hoje,
beber-te na insónia tal
como beber-te o interior do corpo.
é o que faço agora afinal,olho-te simplesmente..
dizer-te que a cidade onde sou extensão, não te espera,
é dizer-te que a minha existência é
apenas um lápis que te escreve ,sem sonhos.

semáforo

a passadeira vive
para alem do homem
debaixo do homem que a pisa
do homem que a faz na cidade
muda
dentro do homem
que dentro beija
em pensamento o beijo
real da mulher
entre os trinta segundos
que demora o semáforo a mudar
depois de descobrir o beijo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

o bicho homem poético

Porque não lhe chamarei de umbigo ou outra coisa presa ao umbilical dos pensamentos
Dar-lhe-ei um nome bem mais peculiar como exemplo: bicho.
-Serás a minha sentença como peça que falta encaixar para completar o suicídio deste raciocínio.
Nada mais estranho,
ter formigas percorrendo todo o corpo assistindo à mutilação do corpo ,este se expõe à mediocridade dos pensamentos.
Há quem lhe chame de louco, recorro, neste caso, à sua insanidade e a Foucault para melhor me associar a esta depreciativa arrogância.
Mais tarde, direi mesmo que nada corre nas veias dos armadores em amadores de consciências facultativas e experiências Artudianas, estas, as ultimas compreendidas como surrealistas, humorísticas e bem esplanadas numa big bifana que acabei de comer.
de resto, permitir que o registo, no seu maior e perceptível complexo aparelho mental, morre de uma carência medonha de morrer sozinho, tal o pensamento fragilizado pela curiosidade providenciada e peculiar.
Nunca tais toxinas aventuraram-se neste corpo de perfeita saúde poética,
Compreendo, claro está, que a analítica embriaguez do poema carne retorna à mesma significativa importância de dizer o que lhe convêm,
Neste caso, deveria ser o mesmo espelho subjectivo de quem bem escreve.
O bicho, contrariamente a quem nada diz, percorre como uma bússola e assombra aos grandes poetas da literatura portuguesa da actualidade, devemos escrever poemas de amor fácil, sem a dor de os transformar em dilemas.
Não creio na sua absolvição mas sobretudo no seu ímpeto reconhecimento.
Assim sendo, a palavra para além de ser usurpada é deturpada é feita de merda, aqui somos todos românticos juntos dos delírios dos toxicómanos à força de esperma nos umbigos dos mais atentos e perspicácia dos notórios da palavra sangue.
Todo o pormenor desta dúvida é subjacente no pensamento, que mais tarde viverei uma acusação dos mais puritanos, semicerrados anzóis das palavras livro.
Esta madeira é de luto!
Como promessa de uma nova esperança ou seja, uma cortina deveras rasgada na ânsia de provocar qualquer ínfima razão, para causar alegria.
Quanto mais depressa se julga mais o buraco da ignorância se preenche e toma conta de quem se diz inocente. A verdade apenas resiste à sua tolerância se esta se afirmar sobre a verdade.

sábado, 13 de março de 2010

No espaço sobrevivente no interior das veias

Que os outros não saibam
o que por aqui escrevi,
Mesmo que lhes mostre o quanto de mim dói,
nos sais do rumor da ferida.

Que os outros não me caibam
no coração
No espaço sobrevivente no interior das veias
na passagem da sombra corroída das ruas
E no rasto dos dedos sob o teclado das paredes melancólicas

Que os outros não se esqueçam
Quando deturpam as palavras saliva
a gaveta da aceitação inconsciente da vida
No roupeiro, visita de vez enquanto a paixão
na metadona
por sentirem apenas uma saída
Que os outros nada dizem.

Como lama entranhada no cérebro
Molda-se para evitar o conflito do inconformista
E cai como um corpo inanimado sobre as flores,
uma língua de fragrância de caule lodoso

Os papéis estão soltos neste momento
A mente está limpa;
deitei os papéis soltos fora
Da vida,
no pretexto de viver mais vida

Incendiei o caixote do lixo
E assisto à sua imolação
Corpos e corpos de letras metafísicas são devorados pelo lume
Cortante, crepitante
Tudo isto
assisto na embriaguez da pele

Que os outros não saibam
Que a minha cabeça nunca encontrou este lugar
Esta cidade onde fui feliz.

terça-feira, 9 de março de 2010

A boca no nu da satisfação

Não há mulher
Se o amor não trilha os dedos as mãos a boca
Não há mulher
Se o amor não trilha o peito do homem nu
Não há nu
Se a boca não trilha o pássaro o umbigo
O seio da mulher feita
Não há satisfação
Se o homem não trilha a mulher
Nos dedos das mãos nuas
Como uma dávida de trilhar
A boca no nu da satisfação
Não há mulher não há homem não há satisfação
Se nunca houve amor.

quarta-feira, 3 de março de 2010

uma criança no encobre do robe

uma criança no encobre do robe
espantalho
leva o chapéu do pobre
ao choro de quem morre
da palavra da mão palha
espartana cegueira
ou peneira desta forma
que nunca amor seja
quando beija três
única e três
nem dois nem um
do outro lado do chapéu
camaleão
na caixa de fomento atento
um dedo vale um segredo
de que uma vida de medo

segunda-feira, 1 de março de 2010

Com os Cães negros enormes que trago dentro

Tem vezes que queria chorar-te
Com os cães negros enormes que trago dentro
Mulheres atrás do bar servindo
E homens que acreditam em deus gemendo
O amor por elas

Tem vezes que queria chorar-te
Os cães negros enormes que trago dentro
Fazer desporto radical numa camisola azul às riscas castanhas
Jovens conversando
No entra e sai da porta do bar
Com uma garrafa de cerveja na mão

Tem vezes que queria chorar-te
Com os cães negros enormes Que trago dentro
Como eles fossem capazes de voar
Entre quem dança musica de intervenção
Com aquela gentil voz a borbulhar nas tampas descartáveis
De Garrafas de cervejas partidas no chão

Tem vezes que queria chorar -te
Com os Cães negros enormes que trago dentro
Chorar-te dos sonhos, dos amores, dos objectivos
Do que somos por dentro
Dos cães negros enormes que trago dentro

Mas não posso enquanto tiver esta borbulha
No lábio inferior direito.
aprendi que,
todo o desejo deve ser no mínimo sensato..
ando cansado de pedir a lua
para entregar aos corações dos outros.
tempos houve que me apaixonei de verdade contudo,
renunciei com medo de não estar à altura de tamanha magnitude,
agora
não creio que ande apaixonado por um único amor..
ando apaixonado sim,
pelas palavras ,
vivências e opiniões dos amores que até agora conheci.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

descobri que andavam atirar corações às águas salgadas do mar. Iam e venham com as ondas e eram passos fechados no seu cárcere. Também fui um deles. Que cresceu e envelheceu suas pernas. Enquanto, uma árvore solidifica-se no lençol das mulheres sábias. E morre nos seus peitos, como quisesse viver de novo o cimento no interior do ventre. disse-me o coração, enquanto lutava para sobreviver à maré intempestiva das aguas. Era Sal e também saliva dos minúsculos portos nocturnos. Dormia o sexo no sangue do leito. semeava garfos sussurrando estrelas na lentidão dos braços. Prometia cidades e pássaros com sabor a pêssego e abria flores nas cortinas do fogo. Outros, escondem um sorriso dentro da boca e bebem catástrofes de uma febre-amarela. Outros ainda, conheço-os da noite profunda.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A pólvora que ficou
É espessa e sabe a resina

É como alvorecer no teu corpo -
Pérola, usada num colete-de-forças
Sentada No aveludo vulcão e
Servindo à mesa de blusa aberta.

Aí encontrei um sinal pequeníssimo
No lado esquerdo do peito
Como
Quisesses mostrar-me
Mas como mostrar uma pupila de saltos altos
Embalada pela dor de sentir desejo
Dos passos húmidos na boca.

Mas como mostrar o que foi morto

A pólvora que ficou
É espessa e sabe a resina

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

antes da noite

Que outra noite chega tarde amor
Que outra noite irrequieta de sentimentos de quem foi
o corpo sofrido entregue à terra,
À arvore, que fazemos parte
rasga,a paisagem dos abraços,
Mar destruído,
Roupa que seca no corpo nu.
Bem te conheço
Neste rio de emoções das algas
As que se atiram ao fundo do sonho
E ali se deixam ficar
Caras pálidas
encontras, no regresso a casa
A casa que não te quer porque
Sempre fomos das ruas
Dos escritos zinias
Dos caçadores de notas vocais: gritos
Sim
Será este poema este nome
Deixar que o dia chumbo
Transforme a lava em larva desculpável.
Queria-te dizer antes da noite
Que, por aqui estou a acenar-te
E beijar-te as palavras.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

nao há nome nem há boca

A ti o nó das respirações
Pressente no mais escuro uma porta
Onde o olhar se prende,
Era tão bom voltar à vida nómada das pedras
Aos objectos pontiagudos das emoções
E ao papel resinoso do pensamento

A ti a jugular dos sentimentos
Rompe músicas de outras cidades
De um coração etílico
Onde a solidão envelhece nas mãos liquidas
Insónicas

-Melancolia de fome e cio que cerra os dentes

A ti as pálpebras queimam as manhãs
No efémero tempo fosfato
No murmúrio desdobrado dos animais cela
Onde o regresso sonolento morde
a catástrofe do ente atirado às janelas
do esquecimento

não há nome nem há boca no abandono

domingo, 14 de fevereiro de 2010

outra cidade findará e com ela morrerão as pedras e a calçada debaixo dos pés.estes que já estão mortos por nada sentirem.deus alugava uma estranha flor que só á noite abria as suas pétalas e me entregava o seu coração.deus morou na rua que tu mandaste cinzar.morreu nos teus dedos silencio.e eu morri com este som intenso ,com este arfar demasiado amor.fechou-se assim a noite e o seu sorriso.porque coseram a boca,a tua boca e taparam-me a boca,a minha boca,para que não nos pudéssemos beijar.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Tenho o medo nas mãos a languidez dos ossos
O sal
Que esmaga contra a carne o sarro das ruas
Assim como as palavras sendo
Cães desenhados nos rostos urbanos
Frémito crepuscular na escuridão
No silêncio Ausência hoje
Porque à muito partiu em trabalhos
a ansiedade veloz
Voou
Contigo como sempre estive aguardando-te
Tocando em outro corpo a carne
O lápis aceso no interior do que fui
Regressa a este lugar que julguei perdido este que subtilmente
Aquece quem levanta a voz
No azul dos rabiscos
E por instantes viajo pelo gelo que lavram os teus dedos.
Não inverno nem qualquer outra estação
Apenas nós
E tão sós estamos

Tenho o medo nas mãos do cinzel na lápide
Porque escrevo a luz dos teus afagos
Prova-me outro lugar Uma lâmpada
De fio humano
Enquanto fecho os olhos querendo
Que me encontres
No magro hálito da boca fragmentada.
-no alpendre da noite
Ainda vive em mim o que sentimos.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Vi-te dentro
Amores maiores de bandeira erguida
Adormecendo ao sol
No prateado do mar
-vestem -trompete
Nos ventos, galgam
Metáforas intermináveis.

Na varanda das gaivotas
Que engatam as nuvens,
-as primeiras agitam os braços,
Beijam os dedos
-as segundas alçam a perna,
Para o primeiro encontro.
Vagão sinal Ético …
Preto
Não paga bilhete
Sobre a Tela,
Brilha
Ópio que visita outro lugar.
É contigo que eu quero morrer
No meio das dálias
Estilhaçando fragrância de hortênsia
Em cima do mar
Nosso
Contra as unhas e sem dedos
No branco das palavras
Quando comunicam com os sentimentos
Das ambrósias
Porque
Fui sempre contigo o estreito da cama
Onde quedam os peixes
-nossas janelas húmidas
Sabes
Que os corpos também são berma na escrita
E apagam os cigarros no tecido metálico da lâmina
Alimentam
As fibras do lume
-frescas cicatrizes do revolver amanhecer
É contigo sim,
Que eu quero morrer
Na ruína líquida cósmica
Nas veias lúcidas da pedra

sábado, 6 de fevereiro de 2010

um cigarro no sangue

Dizes que esta viagem não é tão morte
Como cega
Nem de pássaros que celebram em suas asas
Corações rompendo candeias
-Porque não a celebram em asas nuas.
Outros corações
Estarão sempre nas ruas
-álcool.
E tu
Não sentes medo da morte
Tens medo sim
Do frio que martela os ossos
O frio que rouba ao teu coração o corpo
Que ama as ruas
Mas as ruas estão geladas
(como bem o sabes)
No seio das lobas
Ofertando suas crias
Aos ventos do azul celestial dos teus dedos silencio.

-para quando um pedaço de pão
Matilde
Para quando mais vinho
E o teu sexo encontra-se erecto no que já morreu.
Hoje
Regressaste como quem agita os astros
No vómito de fome pelas estrelas
Sossegando-a; fome
Numa colher de sopa limão.
Matilde
Copo de vinho que não beberei
Ou só os pavões despem seus medos
Nos casacos vermelhos
Lábios de dor
Uma língua trazes ao pescoço
Uma língua húmida percorre o pescoço
Trás o hálito e nuvem
Trás um homem e trás cinza
A cinza do homem
No cálice debaixo dos teus lábios que sucumbiram
Matilde
Somos lençol e penumbra no roxo da ferida
Quantos peixes alongaram no peito dos olhos
-disseste
E quantos coágulos no asfalto da cama
Desapareceram ou morreram
Porque ainda excitas os gestos
Matilde
-Noite veloz na sela do cavalo telefónico
Sei que acreditas na lava
Na lava renascentista do corpo
Mas
O teu corpo engole a mão
Engole a astúcia
Quando rouba a masturbação
De um cigarro no sangue
Matilde
Coisas de homem
Em horas cruzadas voando
No cravo dos dedos
Que outro nome agora
Que outro nome para o novo ventre
Que outro nome
Para a anca dos nervos
-orvalho
E mulheres e deuses
Fantasmas que viveram ossos dos seus ídolos
Lençóis de mofo
No hálito dos carrascos
Corta
Corta o cordão umbilical das veias
Matilde
E prova o veneno das uvas
E dá-te aos seus passos ébrios também
Porque não há outro lugar na formosa
Onde podemos ouvir as sereias negras cantar
Que outro lugar que não este
Podemos adormecer e chorar
Um ovo Matilde
Enquanto
Dobramos os dedos na carne da ferida aberta
-trazes
A faca que ceifou o sexo dos andróginos
E retiras do palpável uma cintura
Para as tuas vestes
Incenso és agora
Lunário mascando o medo no acaso da noite
-riso animal debruçado na soleira do Capitão-mor
Já cá andam
As sanguessugas lavrando as pálpebras
Matilde
Néon cipreste bebendo de pé os rins
Dançando cadafalsos e querubins de seda
Nas tuas mãos.
Hão-de esquecer-te Matilde
E no largo da Sé
Tu serás apenas…Fruto silvestre.


Ao Tiago Brás
(um dedo na carne)

sábado, 26 de dezembro de 2009

que poderia eu dizer deste acordo nosso antigo.de outra forma,dizer que a amo espalhava-se em salpicos de deliciosas palavras para depois partirem em lábios molhados.se corresse bem,dois corações encandeavam as ruas que o templo do espírito pedia perdão.e por essa razão,deixamos que nos apertem as mãos.e o crepitar do lume vem com o meandro dos dentes.e nós somos agora uma pá cheia de medos.ainda que,não tentamos o suficiente.avançamos para alem de um pequeníssima semana.e que amor tombou no primeiro impresso do dia.eu sigo.organizado e dialogando com o próprio coração.ver-te-ei depois da morte.e dormirei contigo.até lá,seguro nos dedos este arrependimento e remorso,pelo amor, mais e mais devemos fazer.pelo amor que acreditamos.pelas ruas,já apagaram as candeias.pelas janelas,as sombras transcendem em frente às cortinas.todo este cansaço ao frio.todo este coração antes de ser sombra.é um momento de infelicidade este.um momento ruidoso antes de ser sono.eu,como fortuna terrestre admito-o.um sopro de luz pela aorta da memória.e sigo este remorso, por ter ainda mais vida.que outro coração lambe das ruas, a tortura.que outro corpo recorda no seu rosto,o amor.e eu,que altivo recordo, entre vozes:
- este é o amor que tive,da idade própria de o ter,de um homem em flor que o criou.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

noutra voz que nao esta

queria falar contigo ,noutra voz que não esta.estou cansado deste miar de gato.do alpendre e da janela de cinza.estou cansando da cor,da mesma cor que a minha voz mija.e estou dobrado neste silencio.neste movimento abstracto.quero um novo coração.que surja da palavra abandonada.a mesma que não te disse.porque só assim mantenho vivo este mar.este que te escolheu quando te encontravas sozinha,á procura das sereias,no centro do sol.teu corpo,é um homem que virou as costas ao mundo fantástico.ainda te espero num outro telefonema.de pupilas atentas e com a mão no sexo.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

memórias de um amnésico XII

no meu interior sei que é mentira.a mentira do homem comum.o homem mortal.o homem feito de carne.o homem feito da pedra.do osso.depois da cinza.esse também.e o monstro.irei procriar o monstro.a constituição do homem comum.e faze-lo suar.para depois me desprender do seu choro.vou-me também,despedir das sombras.da embriaguez das mesmas.dos seus aromas e cheiros.desses outros seres.compreendo o que esta para alem da minha vontade.recordar o porque recordo.deixarei o lacrimal para um depois.e a neve dentro do meu corpo.e a neve dentro do meu corpo.só caindo inanimado consigo o retorno.todas as viagens e todas a virgens.as sombras.a sepultura e o jardim.não desejo de alguma forma este talento.a capacidade de voar entre e dentro das sombras.a construção de outros cenários e a desconstrução do espaço e do tempo.minha inquietude é este lugar.agitado.lugar onde me alimento das sombras.porque as sombras sao o vazio.vazio de um nada que arde.porque o vazio sugere o amanha.porque é da ausência que falo.tenho nauseas quando me alimento das sombras constituidas pelo arquitecto.ele também é pedra.a solidificação da agua.este corpo.esta sede do ainda.aglutinaram as carnes e sao ausências.meu espaço vazio.meu espaço comido pelo tempo.meu tempo comido pela ausência.não há mais nada neste quarto que arde.arde sozinho e com ele as sombras.os outros personagens de linho.assim, me despeço do morto.dos que ardem.dos ausentes.descalço-me desta capacidade de progredir no tempo.não há tempo no espaço ausente.não há espaço para o tempo. a pedra arde.o arquitecto sugado pelo fogo.

uma porta existe agora.uma porta inventada do nada.da ausência.uma porta fechada mas não trancada.um espelho em frente da mesma.meu rosto.meu corpo aconchegado em si mesmo.espelho.e pensamento.é preciso viver para alem das coisas boas.é preciso vingar as coisas más e toma-las como boas.

memórias de um amnésico X

sombras.descobri enquanto lavava as feridas do corpo liquido que as sombras também se despem enquanto duvidas.as paredes tornam-se estáveis à minha volta. é escuro.estou em reunião familiar com todas elas.as sombras.fêmeas que se deitam no sofá.local solitário.o meu lugar.o meu espaço no tempo.desvio o cheiro a sexo para a janela.do outro lado o jardim.ao lado deste o corredor.dentro do quarto uma cómoda.a gaveta e as escadas.amacio este lugar intermédio enquanto espero.sao murmúrios.uma vez mais .há um discurso que até poderia ser o mais indicado mas apresenta distorções.não é um bom discurso.ruidos .não gemidos.ruidos.reconheço-lhe a voz.uma outra sombra.há muito que andava em viagem. há muito tempo que andava desaparecida.regressou.a corda do enforcado.metade das pessoas que conheço teem medo de serem abraçadas pelo tempo.outras procuram no tempo um abraço.minha residência é dada a carências.chocolates e morangos.encontro-me só e muito triste.só, porque não poderia ser de outra forma.só assim escrevo.triste.não há razão para tanta tristeza.talvez seja dos anos.comemoro-os só, unicamente só.há uma maldição para quem escreve.vingo-me assim nos momentos decisivos.é a altura de sufocar o medo.preciso da corda.sinto uma satisfação por o conseguir.estar preso a estar só.esta solidão por estar triste.a tristeza sobrevive nas veias como o sangue.tenho várias feridas abertas.pensei que fossem desaparecendo com o tempo.engano.tudo não passa de um engano.tudo não passa de uma questão de espaço.tenho o meu corpo todo rasgado.envelhecido porque pensou em manter-se jovem.saber envelhecer.estou cansado.cansando este novo saber.conhecimento.uma esfera pequena protegida por uma orla de ignorância.quando mais conhecimento mais a esfera dilata-se.mais a sua superfície toca na orla ignorante.cave.escadas de vidro que vão dar à cave.

memórias de um amnésico IX

acordo.o sol já se deitou faz tempo.sobrevivo à claridade solar como sobrevivo ao principio da noite.candeeiro.apenas este candeeiro.esta luz.os outros.nasci de parto natural.comigo nasceram também os outros.tal como eu foram ganhando formas de se pronunciar.cinzas.estão espalhados pela casa.corredor.escadas.janela.jardim.cómoda.gavetas.sótão.cave.todas as divisões possíveis e as que ainda faltam inventar.sao representantes dos sonhos .meus sonhos e meus pesadelos.minha felicidade e minha melancolia.túmulos metafísicos e psicanálise.sao estátuas e sao pedra simples.túmulos e suicida.incendiários.um.aparecem sobretudo transvestidos.homens e mulheres.cavalos e sapatos.pés e unhas.deslocam-se através do vento.através da noite.do quente.da estação.quantos partiram e não voltaram.quantos regressaram de outras viagens e fundiram-se noutros que ainda não existiam.criador.um.sombras.residentes no meu quarto.uma teia de aranha no canto superior direito.de frente para atrás da janela.janela de frente.detrás para a frente da janela.sombras.teia de aranha.sombra de luz.singular refeição que me acompanha.sombra de luz.também é dela que respiro.e sou aberração.não é fácil ser aberração neste espaço.somos tantos.distinção.outros de mim revoltam-se de inveja.sombras agitadas.sol.a poesia morta.a poesia é nocturna neste quarto perto da cómoda constituída pelas gavetas que teem puxadores.gaveta aberta.corredor.escadas de vidro.cave.a um sol desconhecido pelos meus olhos ,divago.aguentarei nas asas de um pássaro solar.quando a solidão me visita.eu.eu mergulho bem do alto da lua e me deixo abater antes de tocar no espaço.neste quarto.assim chego às pessoas esta pedra.este cérebro cansado.a necessidade deste tempo é exorcizar este medo.só.unicamente só.o meu corpo.a minha mente.o meu entusiasmo de escrever.funciona exclusivamente quando se arrasta como merda colada nas solas das sandálias.e voa.ora para aqui ora para ali.parece um saltitao.este entusiasmo panasca.divido o meu tempo com o silencio com a dor com o medo e com a solidão.sou único.o medo aumentou e o meu cansaço também.ambos colaram-se como carraças às minhas células cerebrais.um outro espelho.da boca vomita um desejo carnal de comer.quero comer.quero comer-te o cérebro.que me sirva de cobaia este corpo que me acompanha ao longo do tempo.neste espaço.como.acordei a um agora de um pesadelo.pensamento.unhas dos pés arrancadas e comidas pela boca do espelho.arrota a podre.os meus pés mortos.sem pés.foram comidos.sou bombardeado por imagens de cariz sexual.pornográfico.físicos vigorosos.fêmeas famintas de carne.sem unhas e sem pés.o sótão.desconheço a obediência da minha idade para estas coisas.o meu tempo.

retorno a casa

já é tarde,digo eu.enquanto, as mãos lavam as poeiras de outras magoas.e o corpo nocturno está cansado de ser constantemente usado.devoradores de plantas ósseas comem a sonolência e o coração das cidades etéreas.e a dor vem em telefonemas de tosse e rouquidão de quem salta o amor.debruço-me assim neste vento gélido e deixo que os grãos vivos desta ferida sosseguem-me por momentos.retorno a casa.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

casco dos cavalos

gostava que me dessem asas,
depois que me ensinassem a voar,
contudo,
na gaiola passo parte,
grande parte do meu tempo
e o tempo gasto constroi-se
com sorrisos
e nao com o casco dos cavalos
a pesar-nos as asas

a menina dos meus olhos

é da calcificaçao da gaveta
que a memoria ficou com a ferida aberta
e dela
o sangue nao parará tao cedo de verter
tenho por vezes
pena da beleza da menina dos meus olhos
é que teima sempre em chorar.

sol de inverno

o que nao toco
diluiu-se
pela corda da sofreguidão
há quem seja sal
na noite em que se deita
eu continuarei
a ser um sol
de inverno rigoroso feito

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

o sal sempre derreteu gelo

descobri que a pele muda sempre que uma parte de mim morre.e numa respiração leve, guardo-te com as outras estrelas.recordo-me agora do lugar.assim,não preciso de te levar comigo.vivemos apenas o acaso de um universo expansível,nada mais.e as respostas,estão ao fundo da rua.foi onde me deixaram construir um sorriso.houve tempos que pensei em te mostrar mas tu encolhias os braços.ainda recorro várias vezes a um local que só eu conheço para montar sentimentos nas veias de quem gosto,depois...depois esqueço-me do local onde estive.
-sempre me demorei pouco em espaços curtos- gostaria de te ter mais tempo.mas uma personagem se ausentou do cinema mudo.ou estará perdida entre dois espaços simultâneamente.não o creio nem o desejo.assim parto.coloco no pescoço o cachecol do norte de África e nos ombros o meu casaco militar.faço-me assim ao principio da rua.sei que o frio que se faz sentir tomará conta do meu corpo. e eu irei chorar.por isso,não te preocupes.sabes bem que o sal sempre derreteu o gelo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

outra cidade findará e com ela morrerão as pedras e a calçada debaixo dos pés.estes que já estão mortos por nada sentirem.deus alugava uma estranha flor que só á noite abria as suas pétalas e me entregava o seu coração.deus morou na rua que tu mandaste cinzar.morreu nos teus dedos silencio.e eu morri com este som intenso ,com este arfar demasiado amor.fechou-se assim a noite e o seu sorriso.porque coseram a boca,a tua boca e taparam-me o nariz,para que não nos pudéssemos beijar.

porque nao choras um pouco (reed)

de onde vem esse teu medo
que me maltrata e manipula

algoz!
não me apanhas assim tão facilmente

marioneta de fogo e cinza
e os cavalos que nos calcaram fogem

pois não teriam estas paredes vazias
outro significado

os corpos de lama
são facilmente modelados
são nossos corpos
na vala esquecidos
maltratados

e o tempo
passa agora devagar
montando o unicórnio de cor prata
e num gesto sibilar
afasta o corpo da alma
numa dor que sodomiza
numa dor que quase,
quase me mata

magoa-me ver-te assim
tão triste tão incompleta tão só

porque não choras um pouco
porque não choras um pouco

sábado, 12 de dezembro de 2009

a morte é vermelha

partes isolado,no segredo de quem vive o silencio.no sonho de quem se entrega ao lençol das palavras sangue.és o teu diário.e escorregas para um lugar por ti seguro e escondes-te.porque o cao canta no precipício aguardando o passo.basta apenas um passo.e beija-te a chuva que tão bem conheces.sabes que és da sua matéria.és as suas ruínas e o seu sangue.sabes que és tu o cao que canta por dentro.e com as flores dos outros cobres este animal.e cultivas no sangue esta pedra.pássaro que assim vive.dentro do cao que canta dentro.dentro,desprende a sua voz.o cao canta e voa.
vem a noite mais uma vez e tu nada dizes.a ferida está viva na garganta de lodo e luz.pegas no corpo breve e mergulhas-te no marfim das flores.é assim que acalmas as feridas de quem ama.no principio,bastava chorar um pouco. agora,um cao canta e voa.sei que mentes enquanto escavas palavras para lamber-te as feridas.o cao também voa.e o seu coração é uma asa onde tua voz pode adormecer,aconchegada.enquanto isto,procuras polegares de quem morre.foste tu que incentivaste a morte.num beijo nu.a morte é vermelha,disseste.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

tens um cao dentro de ti

confesso que me envolves,sempre que deslizas os teus dedos sobre as palavras.o cao quer cantar,dizes tu.no branco linho,na boca da floresta carnal.
e na arvore que carregas nas veias.silabas dobradas pela dor e chuva-fosforo incendiando os teus medos.quem cantamos nós,agora?
o amor perfurou uma parte do peito e dividiu-a.uma parte de ti levanta-se da cama febril com um centurião na garganta.queres que saiba o que sentes e por isso gemes cada uma das flores oferecidas.foram os que por ti passaram.e espalhas o sal pelo meu rosto de papel.
uma vez,uma voz bateu-lhe à porta.o cao quer entrar ,pensaste tu.e não reparaste que já dentro de ti ele habitava.capaz de te secar as chuvas.montar a ansia do fogo.e comer-te o silencio.tens um cao dentro de ti.
é ele que te vende o amor e o coração.a tua cidade.e o sono que te embala, é porque o cao dorme,dentro de ti.desejas acordar com um país erecto na boca.uma língua sorvendo as ruas da tua europa.salivas,a tua língua.e a tua boca.já fizeste esta viagem várias vezes,penas.e arrastas para ti outros braços.alugas quartos e cantas outros corpos.mas não sabias que,as arvores também nascem nas pedras áridas.como podias saber que nem todas as sementes morreram.uma,uma delas fecundou o teu peito.dois corações no teu peito vivem agora.e o cao quer cantar.preso às coisas tristes da janela sensível.na cidade que te fecundou a arvore.as estrelas também morrem-pensaste.como que, as querias apagar.sao putas.sao putas como tu que brilham no mais escuro da noite.que se dão ao prazer do fogo.e tu querias ser unicamente estátua.agonia-te esta sensação de sentires tesão.o cao canta dentro de ti.outros atravessaram o teu jardim,inúmeras vezes.nunca os amaste.mas sempre soubeste a razão.por isso bebias o liquido espesso das suas bocas e alugavas o teu coração.fazias tudo isto porque o cao dentro de ti precisa de cantar.e tu gostas dele.por isso não o expulsas.tens um cao dentro de ti.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

também eu morro ,em cada gota de chuva que brilhou e se estende agora no chão.no lugar mais perdido do corpo encontrarás meu coração.que dizes tu, quando uma voz morre na imensidão do mar.sempre pensei que a dor se deve beber devagar e não na velocidade que quebra o ramo, em dias como este.porque o negrume da noite devora a alma.e sinto-me na verdade cansado, deste grande cinema que é o amor.já não há espera, apenas certeza.

Diário de Maria Cura

cheguei ao interesse deste livro através de duas pessoas, FreitasAntero e Moreno.
(um abraço aos dois.)
falo de um policial,digno de autores,tais como os que escreveram "crónica de uma morte anunciada" (Marques)) ou mesmo "o terceiro homem"(G.Greene) .
apercebemos-nos do género desde a pág 6 e que nos é dissipada todas as perguntas que colocamos ao longo do enredo apenas, na página 109.e quando tudo está resolvido (pensamos nós) uma outra surpresa é-nos lançada pela janela do epílogo.destaco a idade de Maria Cura, tem a minha idade.
e a curiosidade sexual, não creio que seja uma cena que por aqui li,como uma coisa pornográfica ou erótica...parece-me mais que o Torres se preocupou com a normalidade que nós (homens e mulheres) fazíamos na altura da escola.nem mais exagerado nem menos belo.(cap2.pag.12) no cap 3 ,a descrição de uma jovem adolescente com todas as vicissitudes como o autor diz a certo momento "Maria ardia" pag 15.e a sua viagem à descoberta do sexo,não quimérico mas pratico.
no capitulo 4 pode se afirmar que Maria é uma mulher feita procurando aventuras e a sua perversidade e gozo das mesmas.
no cap.6 a Internet e o diário e a interligação a um real virtual,passo a explicar ..em luso-poemas encontra-mos de facto o diário de Maria Cura..o que enaltece sem dúvida esta ideia mágica da construção das personagem...o escritor neste caso foi extremamente feliz ..e o resultado é todo este capitulo. nós,como usuário do luso-poemas entenderemos melhor.fomos privilegiados neste policial,como que o autor deste livro nos quisesse agradecer.
o que mais gostei neste livro foi o cap.7,não porque nutro de um interesse próprio por coisas mais melancólicas mas sim pela capacidade e carga dramática do escritor ao longo da pág 45

" não olhou para atrás à saída,se o tivesse feito teria visto o seu próprio corpo dobrado sobre a sepultura,chorando." (cap.7 pág.45).
no capitulo 10 assistimos a uma cena extremamente bizarra,o sofrimento e loucura de uma mãe,
-até onde nos leva afectividade e a perda de alguém que nos é querido?

capitulo 11 uma primeira suspeita.
no capitulo 12 uma outra revelação surge,constrangedora,de facto,algo digno de um Eça de Queirós pelo enredo e situação.cap.13 o escritor promove o nome de "Maria cura" subtilmente...com a gata..quando esta se chama Maria e no final do capitulo,completando-a através da frase "fosse isso razão e cura".
cap.14 o reencontro com o seu primeiro amor e,uma tragédia acontece,a viuvez.
"foram sonhos a cores,com cheiro a liberdade"
cap15 afinidade entre dois bons amigos..tal como deveria acontecer na realidade.
(pag.88)que de resto, continua no capitulo 16 ..a relação entre pai e filho com o estádio axa no papel de fundo.muito bem conseguido estes dois capítulos.até ao capitulo 19 o confronto de gerações..de 3 gerações concretamente.no capitulo 19 a preciosa ajuda de uma personagem..curiosamente tem o nome de uma personagem de Eça de Queirós..digamos que José Torres presta homenagem a um imprescindível escritor da língua portuguesa.também ele o é ...com este policial o confirma.

a ti Torres um Grande Abraço.

Caopoeta.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

o engate

não tenho tecto neste sentimento de dúvidas que trago comigo,também se encontra vazio.o vento fora decapitado.pernoita agora a secura dos ossos viajando muito longe, para um universo de incertezas.morro.e uma língua insuspeita cobre o teu rosto para que me faça ouvir.não me pertence mais, este fogo que aquece teus dedos.a floresta chama por mim,tal como o inverno te seduz para outros engates.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

agora sei a cor que quero guardar na retina da árvore.a cor do que sinto pelos teus olhos quando os tenho.porque o tronco desta árvore à muito tempo bebe o teu corpo liquido.e para a sua boca caminha esta afinidade.com te explicar que a noite traz-me aperto e que bate um vento frio cá dentro.é por esta razão que tenho que te dizer.
-que pássaro és tu que me escapa tanto.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

nenhuma palavra
poderá substituir o que o coração sente
talvez o seu gesto seja abraço
para melhor conforto

-porque vivemos recusas e retornos
no meu tímpano
uma circunferência equatorial
a tua voz
uma esmeralda verde
-que dizes tu?
Bom dia
aos nenúfares de gelo
-pensou ele
e deitou os braços ao mar
nunca a solidão invadiu
a fome silencial daquela forma
cinza dos cigarros por dentro do cosmos
fogo de carne zarpando nos cometas sóis
pergunto-me

porque te criei
na pedra infértil que deitei fora

porque és a matriz
onde
a organogénese
apenas é uma paráfrase
do que deveria ter sido
a boca guarda

os silêncios lançados
como gritos de mãos dadas
às respirações


a noite bebe-a
sempre te amei

outras vezes neste silêncio
no tempo em que não existem dúvidas

de manhã
no acordar para o dia
de manhã
no encosto do corpo

da boca
e da boca da pele

lá fora
o vento fustiga as arvores
os ramos e as folhas

lá fora
com a chuva as flores
fingem-se afogadas


dentro
toca-nos a imensidão das coisas
os sentimentos


dentro
fazemos amor


dentro
desprendemos os dedos
as mãos os braços o corpo


como uma canção
devagar


e partimos
para outras ilhas


sempre
em silêncio


sempre
no ritmo do sangue

sempre
na palpitação da pedra.


outras sombras
habitam
nossos pensamentos nus


outras melancolias
em nossos olhos negros


talvez
seja este o preço
por amar tanto.


novamente em silêncio


e ouvimos
o vento e a chuva
as arvores e as flores,

dizem


que
à noite também se ama