terça-feira, 8 de junho de 2010

"diziam-me de um nome que nascia no interior das veias para fugir à pele. diziam-me que assim se chamava por chorar todas as noites com os pés dentro do abismo. não sei. às vezes via-a do interior da ferida a transformar em sal os glóbulos semimortos. tu nasceste onde o desespero se despe, no lugar de ser preciso o abraço - meter os braços no peito e envolver o coração. muitas vezes tentei alcançar-te, chamar-te pelo nome que me diziam, não ouviste ou não era teu. sempre te quis dizer do medo que ela tinha de fugir, que a dor cabia-lhe no interior do corpo, assentava-lhe bem. talvez depois conseguisses perceber o tempo certo de amá-la, como quem quer do mundo o que de melhor ele tem."

MARGARETE SILVA

nunca quis realmente falar-te sobre o que sou,sobre mim.
sempre esperei que alguém me matasse o coração numa nua concha fechada às intempéries familiares da vida nómada.
sempre pensei desta forma.
caminhar num plano que atravessasse as cidades e depois os campos entre as flores.no final queria chegar até ti.as ruas são a imensidão das bocas que matamos abandonadas.a noite é um espantalho que nunca devemos matar.matamos o amor.escrevo-te pelos os cabelos que ontem cortei.cortei as veias também.é este o desejo que tenho.é de sangue este desejo que tenho.como uma maça comida que desperta a dor.



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