segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Negro Dos Dias

agarro-me
às paredes litúrgicas
porque ainda estão vivas

é a época de suportar nas unhas
a condição humana de janelas fechadas

o sialismo
e a prisão dos dias

dos ruídos das maquinas
matérias filandrosas
dos anos

um amanha lento

e sabe -me a sal
essa maça
das ondas e do por-do sol

agarro-me ao vinho
resta-me para alem do mal
a cura
de ir beijando o corpo desconhecido.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Dois e 1 espelho

Alimento-me
das palavras
que teimosamente caiem no chão
como folhas sucumbidas
é Outono!



alimento-me
dos entusiastas de outrora
da margem
de quem olha de frente
"os Bons -foram sempre o começo do fim!"

é feito de fome

é de pó este corpo liquido
e o cálcio
à memoria do fogo
explode

sono

as veias

a respiração das veias
e os dias sao câmaras escuras

da ave
resta-lhe o sol
no bater de asas

e o poeta
é a erosão das estrelas
uma vulnerável metáfora
tatuando o tempo pelos lábios
dividindo as palavras
as palavras e a casa

devora os ossos
como quem ama as pedras

é feito de fome

o poeta

as aves
e a respiração das veias.

terça-feira, 16 de junho de 2009

proibir

proibir
é sucumbir a boca
o sexo
e as estrelas
da paisagem
os corpos dos amantes
tão breve
foi a palavra
e o silencio

Orfeu

Durmo ainda
no horizonte uma linha ténue
um feto
cada elemento o silencio
tão pesada é a sensibilidade

aprisionar o choro das prosas poéticas
é um cordão umbilical contínuo

Orfeu canta tragédia

pobre sao as formas e a tentativa
do nascimento

cada lágrima
é guardada no ouvido

"...e aí,entramos no campo da dor"

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sombras

húmidas
sao as sombras do vazio
o alimento das borboletas
que no submerso
onde o rio adormece
devasta a luz

procuro agora a casa
trocamos um beijo e o sangue

A Fadiga Esquelética

sinto uma fadiga esquelética
todas a vezes que fecho os olhos
para te contemplar,
recuso abri-los!
aguentarei nas pernas este corpo
estático
mesmo que fique pálido,
doente magro
porque prefiro beber-te
e tu sugares-me o ser.
sinto
a serenidade,
de cada vez
que o meu coração palpita....
a melancolia
desaparece
porque partilhamos o mesmo
sentimento de luz
tu és luz!
o sol que me acompanha
no tempo do tempo
e o meu corpo condenado
ao castigo de viver
por te amar tanto.
houve um momento
em que me senti abandonado
quando outros visitaste
primeiro
contudo
irradiada de felicidade
vieste
para me levares
no teu breve sono
já os meus olhos
te abençoavam
e os meus braços
desfalecidos
voavam e
voavam para ti!

O Amanha

o amanhã
é o teu regresso
aguardo
fecho-me no túmulo
enquanto carregas no peito
o vento decapitado
neva claridade
a música e a cama

Deus Fogo

espero que o deus-fogo
rangendo os denteslance à solidão da rua
uma lua fulminante aos ídolos!
porque toda a vida menti
e minha felicidade hipócrita ri
ciosa da minha pobreza.
acordo a blasfémia,
uma criança exuberante lambe
bonecos de guloseimas,incansavelmente,
é a sua língua
o mundo profundo, mais profundo
do que a dor.
lamina enferrujada
rasgando o corpo.
bebo o vinho
e desprezo o deus-fogo.
o equilibrista dança,
é o ser mais solitário, o mais melancólico
antes de nascer o sol.
e se alguma vez duvidei
percebi que
é esta a estrela mais brilhante
da noite negra.
Noite negra,
nuvens metamorfoseadas
do desejo de mil seios.
prefiro ainda assim a criança
hálito do vinho
sussurrando ao ouvido
porque śo assim desmascaro
os sete rostos da mentira
e só o tempo me fará encontrar
o mais naíf instante
em que fui verdadeiro.

Honestidade Intelectual

Quando as emoções dominam a angústia
e a necessidade mergulha no desconhecido,
o segredo para a desmistificar o ponto
onde todos os pontos se convergem
é a execução da honestidade intelectual.
o regresso inteligível confunde-se com a aridez
e surpreende-nos.
hábitos mentais
fecham-se em suas concepções estéticas.
Com a lucidez renasce a esperança e a sobrevivência.
Paralelamente à coragem de prosseguir
travam-se combates entre o corpo presencial
e o esforço individual.
O imediato interesse mesclado difunde-se
e desprende-se do humano profundo.
Para aprovação da expectativa
perante o ritmo no seu estado mais puro,
ruidos crescem nos subúrbios deserdados.
Envergaduras inspiradas
desde a tenra infância
causam sensações de estranheza
e pequenos fenómenos hiperactivos
constituem uma espécie de antídoto
à mecanização da autenticidade contemporânea.

Na Entrada Do Abismo

na entrada do abismo
uma frescura luminosa
permanece com orgulho,
aguardando o retorno voluntário dos sons
que se misturam no único lugar do mundo
onde o ar ainda é respirável.
flores poéticas,despojadas por exéquias solenes
erguem-se no catafalco celestial,
cantando um céu iluminado de estrelas.
fabricantes de sonhos, naturalistas,boticários,
e coleccionadores de madrigais pairam no ar...
é este o lugar
onde a música tem uma leveza de encanto.
música que nos fala de amor,de separação,
de beijos doces,do brilho dos olhos
e das benevolências de um sorriso,
aqui onde o estereotipo espreita,
contudo tem um papel inferior
quase desconcertante.
é a beleza dos madrigalistas que encanta
sem ser uma beleza convencional.
na entrada do abismo
não há guerra nem há paz,
apenas libertação
óperas teatralizadas
pelos descendentesdos dois sexos
que
incessantemente
procuram a solidão solidaria
antes do funeral agoniante.