sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

memórias de um amnésico IX

acordo.o sol já se deitou faz tempo.sobrevivo à claridade solar como sobrevivo ao principio da noite.candeeiro.apenas este candeeiro.esta luz.os outros.nasci de parto natural.comigo nasceram também os outros.tal como eu foram ganhando formas de se pronunciar.cinzas.estão espalhados pela casa.corredor.escadas.janela.jardim.cómoda.gavetas.sótão.cave.todas as divisões possíveis e as que ainda faltam inventar.sao representantes dos sonhos .meus sonhos e meus pesadelos.minha felicidade e minha melancolia.túmulos metafísicos e psicanálise.sao estátuas e sao pedra simples.túmulos e suicida.incendiários.um.aparecem sobretudo transvestidos.homens e mulheres.cavalos e sapatos.pés e unhas.deslocam-se através do vento.através da noite.do quente.da estação.quantos partiram e não voltaram.quantos regressaram de outras viagens e fundiram-se noutros que ainda não existiam.criador.um.sombras.residentes no meu quarto.uma teia de aranha no canto superior direito.de frente para atrás da janela.janela de frente.detrás para a frente da janela.sombras.teia de aranha.sombra de luz.singular refeição que me acompanha.sombra de luz.também é dela que respiro.e sou aberração.não é fácil ser aberração neste espaço.somos tantos.distinção.outros de mim revoltam-se de inveja.sombras agitadas.sol.a poesia morta.a poesia é nocturna neste quarto perto da cómoda constituída pelas gavetas que teem puxadores.gaveta aberta.corredor.escadas de vidro.cave.a um sol desconhecido pelos meus olhos ,divago.aguentarei nas asas de um pássaro solar.quando a solidão me visita.eu.eu mergulho bem do alto da lua e me deixo abater antes de tocar no espaço.neste quarto.assim chego às pessoas esta pedra.este cérebro cansado.a necessidade deste tempo é exorcizar este medo.só.unicamente só.o meu corpo.a minha mente.o meu entusiasmo de escrever.funciona exclusivamente quando se arrasta como merda colada nas solas das sandálias.e voa.ora para aqui ora para ali.parece um saltitao.este entusiasmo panasca.divido o meu tempo com o silencio com a dor com o medo e com a solidão.sou único.o medo aumentou e o meu cansaço também.ambos colaram-se como carraças às minhas células cerebrais.um outro espelho.da boca vomita um desejo carnal de comer.quero comer.quero comer-te o cérebro.que me sirva de cobaia este corpo que me acompanha ao longo do tempo.neste espaço.como.acordei a um agora de um pesadelo.pensamento.unhas dos pés arrancadas e comidas pela boca do espelho.arrota a podre.os meus pés mortos.sem pés.foram comidos.sou bombardeado por imagens de cariz sexual.pornográfico.físicos vigorosos.fêmeas famintas de carne.sem unhas e sem pés.o sótão.desconheço a obediência da minha idade para estas coisas.o meu tempo.

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