sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

memórias de um amnésico X

sombras.descobri enquanto lavava as feridas do corpo liquido que as sombras também se despem enquanto duvidas.as paredes tornam-se estáveis à minha volta. é escuro.estou em reunião familiar com todas elas.as sombras.fêmeas que se deitam no sofá.local solitário.o meu lugar.o meu espaço no tempo.desvio o cheiro a sexo para a janela.do outro lado o jardim.ao lado deste o corredor.dentro do quarto uma cómoda.a gaveta e as escadas.amacio este lugar intermédio enquanto espero.sao murmúrios.uma vez mais .há um discurso que até poderia ser o mais indicado mas apresenta distorções.não é um bom discurso.ruidos .não gemidos.ruidos.reconheço-lhe a voz.uma outra sombra.há muito que andava em viagem. há muito tempo que andava desaparecida.regressou.a corda do enforcado.metade das pessoas que conheço teem medo de serem abraçadas pelo tempo.outras procuram no tempo um abraço.minha residência é dada a carências.chocolates e morangos.encontro-me só e muito triste.só, porque não poderia ser de outra forma.só assim escrevo.triste.não há razão para tanta tristeza.talvez seja dos anos.comemoro-os só, unicamente só.há uma maldição para quem escreve.vingo-me assim nos momentos decisivos.é a altura de sufocar o medo.preciso da corda.sinto uma satisfação por o conseguir.estar preso a estar só.esta solidão por estar triste.a tristeza sobrevive nas veias como o sangue.tenho várias feridas abertas.pensei que fossem desaparecendo com o tempo.engano.tudo não passa de um engano.tudo não passa de uma questão de espaço.tenho o meu corpo todo rasgado.envelhecido porque pensou em manter-se jovem.saber envelhecer.estou cansado.cansando este novo saber.conhecimento.uma esfera pequena protegida por uma orla de ignorância.quando mais conhecimento mais a esfera dilata-se.mais a sua superfície toca na orla ignorante.cave.escadas de vidro que vão dar à cave.

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