quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Hoje queria chegar-te mais perto,
Romper com o homogéneo das ruas cinzentas desta cidade
Cegar-te os sentimentos que no corpo
Abriram fendas antes.
Dizer-te ao coração das mãos, canções dos antepassados,
Trilhar as linhas das horas sempre que o tempo pára.
Hoje queria pedir-te desculpa
Pelo meu atrevimento, insolência,
Porque tu és daquelas desenvolturas que gritam por dentro,
Que precisam de adormecer antes do novo dia,
Beber um copo de chá depois da noite,
-quando as sanguessugas caóticas dançam desesperos, malogrando a carne dos seus quadris.
Era bem mais correcto, inventar um livro novo, inventar novas personagens nos pensamentos que não dormem.
Tenho insónias, desde que me contaste o sonho,
-a inclinação do corpo, a jugular aberta pelo objecto-escrita , uma esferográfica, talvez, ou então a folha de um livro servindo de lâmina no pescoço.
-somos bem mais promíscuos do que os sonhos porque nós somos a realidade perceptível dos mesmos.
Não irei explicar-te a minha indigência de passar os dedos pelos teus cabelos, cheirar os teus cabelos.
Tal como a carência de procurar os teus lábios. Redescobrindo-te o rosto. Luz.
Queria uma lâmpada em direcção ao teu rosto, para me lembrar dele sempre que fecho os olhos.
Declino-me para dizer-te que és linda,
falo da casa que trazes dentro de ti, um voo de qualquer pássaro livre sempre que sorris.
Quanto tempo, para que um pedaço de terra me acolha, porque a cegueira que me falas fora, amoras silvestres revestindo o pensamento único.
“Trago-te o coração nas mãos, queres pegar-lhe?”
Construi-me ausente, nas dobras da cama febril, nas insónias,
Esquivo-me para o café nos lábios e salta-me o apetite de ter-te agora.
Tenho vontade de morder-te o sono.
Queria que viesses comigo dançar os homens pássaros mas não consigo, dormes, então fustigo os cães dentro do homem carne.
Atravesso o teu corpo, com beijos, esperando que a tua pele expire a agitação que carrego nas veias.

Sabe a pouco este momento, sabes-me a pouco no muito que me dás.
Lamento.
Lamento o homem que se esconde por detrás da imagem poética, o homem casulo das frases feitas, queria repetir-te outras noites, beijar-te o sofá abaixo do ventre, incendiando-te o sono.
Olharás por mim?
Olharás para mim mais uma vez, sequer?
Sinto-me vazio quando preparo a fuga.
Devolveste-me a chuva dentro do que é teu, dentro do corpo meu, sempre soubeste que as feridas demoram imenso tempo quando ardem por dentro.
Soluço um cansaço interior, de resto, como de costume.
O cansaço devora a saliva do sol, sempre que lhe apetece ficar mais um pouco.
Ressurgem partículas de vidro fresco pelas paredes brancas da casa,
Fala-me mais uma vez de ti, da casa. Fala-me das árvores que têm nome das danças.
Sei que danças.
Ensina-me os passos das respirações,
Como chegar até ti, dimensiona-me.

-A primeira folha da árvore despede-se do orgasmo que a casa concebeu.

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