quarta-feira, 4 de novembro de 2009
insónias
dormes,envolta na pele suave das minhas mãos.o teu corpo macio,quente e suado descansa.antes, pedias que te chamasse de puta.pedias que te comesse bem funda.agora, dormes.dormes colada a este corpo desgastado.a este corpo que há muito já foi.almofada serve agora.usado.ausente.noutra paragem espera a rosa nómada.o coração que sobrevive à memória.apenas memória é este corpo.mergulhado na lã da lâmina dentro das veias.era capaz de ser outro.um outro corpo vazio.mendigo.absorto.tal como o cigarro que queima a ponta dos dedos.e que se demora na boca.para adiar o tempo,neste quarto.o tempo enquanto dormes.enquanto estou contigo,ausente.ficas bem;linda ao meu lado,penso.e respiro os teus cabelos,cheiras a amendoa.outro país,viaja este pensamento.respira dos mortos.saliva outros poros.dá-me nauseas.dá-me nauseas a noite próxima e a outra depois desta.pergunto se ainda gosto de ti.nunca saberei o que alimenta esta insónia.porque sempre me tiveste tão próximo,porque sempre me amaste em;fogo.uma arritmia cardíaca agora.levo a mão ao sexo quente. e masturbo-me.preciso de um pouco de morte.e tu dormes.levanto-me e taciturno as paredes deste espaço.tomo um café.por detrás das cortinas, a janela. lá fora a cidade dorme.as ruas vazias absorvem apenas os caes;resolutos aos caixotes do lixo.estão com fome.mais um cigarro.observo-te.não há maldição para quem tem insónias apenas desprezo pelos que dormem.
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